
2022, (Novo) Ano Zero
Aproximamo-nos a passos larguíssimos do início da nova temporada do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Este ano marca uma revolução do ponto de vista técnico, com a antiga fórmula aerodinâmica a dar lugar ao regresso do efeito solo. Foram banidos os apêndices que se viam nas laterais dos monolugares dos anos anteriores, as asas dianteira e traseira têm um aspecto diferente e as jantes passaram de 13 para 18 polegadas, com pneus de baixo perfil e tampões nas jantes. Tudo isto com o objectivo de facilitar a perseguição e criar mais luta em pista. Os carros de 2021 criavam muita perturbação no ar, criando o chamado ar sujo, o que fazia com que o carro perseguidor perdesse muita aderência ao circular perto do adversário. Este novo conceito aerodinâmico vai eliminar essa perturbação, como os pilotos já começaram a sentir nos testes de Barcelona e do Bahrain.
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Como em todas as mudanças radicais, esta tem dado muito trabalho às equipas. O problema mais visível tem sido uma estranha oscilação dos carros, que dá pelo nome técnico de porpoising. Este fenómeno ocorre quando, devido ao efeito solo dos novos monolugares, a asa dianteira fica tão próxima do solo que interrompe o fluxo de ar, com a consequente perda aerodinâmica, até que a asa acaba por levantar o suficiente e o efeito solo reinicia-se, criando assim um ciclo que algumas equipas não têm conseguido contrariar da melhor forma. Com todas estas novidades e dificuldades vai ser particularmente interessante acompanhar as sessões de treinos livres este ano, quando as equipas irão testar novos componentes e novas soluções para estes carros.
Quanto à pré-temporada, e relembrando que os tempos por volta nesta fase não são particularmente esclarecedores, deixou a impressão de que temos duas equipas ligeiramente acima da concorrência: Ferrari e Red Bull. Tanto a escuderia italiana como a equipa britânica mostraram competitividade e fiabilidade. Ambos os pilotos da Ferrari se mostraram optimistas com a performance extraída do F1-75. A Scuderia aposta num motor novo e num design arrojado e o carro parece bem nascido e capaz de lutar pelos primeiros lugares. Já da Red Bull não esperava menos do que isto. Num ano de mudança aerodinâmica, a genialidade de Adrian Newey é algo que não deve ser menosprezado e o engenheiro britânico parece não ter desapontado. A equipa de Milton Keynes não tem sofrido tanto com o porpoising e tem mostrado ser bastante rápida.

Um pouco atrás destas duas equipas temos a Mercedes. A equipa campeã do Mundo tem tido problemas a dominar as oscilações, que provocam uma grande perda de downforce. Lewis Hamilton e George Russell têm lutado muito com o carro. No entanto não devemos esquecer que falamos da melhor equipa dos últimos oito anos, com a competência e os meios para dar a volta a esta situação. A Mercedes apresentou um conceito extremo no W13, com as laterais muito compactas. Lewis Hamilton mostrou-se confiante no potencial do carro, mas por agora a equipa ainda não descobriu esse potencial. Confesso que espero que a marca de Estugarda consiga desbloquear todo o poder do seu carro, para que se possa assistir à luta entre Hamilton e George Russell. Por perto da Mercedes deve andar a McLaren, mesmo que a escuderia de Woking tenha tido um teste do Bahrein para esquecer. Problemas irresolúveis de travões e a ausência de Daniel Ricciardo devido ao corona vírus deixaram a equipa com poucos quilómetros feitos. Ainda assim existe algum optimismo em relação ao valor deste MCL36 e Ricciardo já estará disponível para o Grande Prémio de dia 20 de Março.

A luta pelo quinto lugar este ano promete bastante. Os testes não mostraram problemas mecânicos graves em nenhuma equipa, um nível assinalável de fiabilidade para carros completamente novos. A Alpha Tauri parece-me estar em boa posição para atingir este tão desejado objectivo, perseguido em Faenza há muito, muito tempo. O carro mostra-se rápido e Pierre Gasly tem renascido na equipa júnior após ter sido despromovido da Red Bull. A Alpine deverá ser o maior adversário da equipa italiana para já. Fernando Alonso e Esteban Ocon estão confiantes de que este A522 pode levar a equipa a intrometer-se com frequência nos lugares da frente e, quem sabe, lutar novamente por uma vitória. Mais atrás deverão estar as outras equipas, com sentimentos mistos. A Aston Martin e a Williams parecem ter dado um passo atrás, com carros que não estão a corresponder ao esperado. Pelo contrário a Alfa Romeo deu um passo em frente, podendo mesmo ser a surpresa deste início de temporada. Quanto à Haas, após um ano sem marcar pontos e a apostar completamente no desenvolvimento do VF-22, fazer pior é mesmo impossível. Devo dizer que este Haas parece capaz de marcar pontos com regularidade e, para ajudar, há males que vêm por bem. O embargo internacional à Rússia levou a equipa a despedir sumariamente Nikita Mazepin e a fazer regressar Kevin Magnussen, o que significa uma melhoria assinalável do ponto de vista desportivo. A parte financeira poderá sofrer, uma vez que juntamente com Nikita também o seu pai, Dmitry Mazepin, e a sua empresa Uralkali foram “corridos” por Gene Haas. Quanto ao mercado de pilotos registe-se ainda o regresso de Alex Albon, que vai ocupar o lugar de George Russell na Williams e o ingresso do chinês Zhou Guanyu, que acompanhará Valtteri Bottas na Alfa Romeo. Para o primeiro grande prémio da temporada teremos também Nico Hulkenberg, que irá substituir Sebastian Vettel, a contas com o corona vírus.

Posto isto, parte como principal candidato ao ceptro de pilotos Max Verstappen, tendo nesta altura os pilotos da Ferrari como principais rivais. Sendo certo que neste momento Lewis Hamilton e a Mercedes estão um pouco atrás, não podemos desvalorizar a capacidade da equipa e o brilhantismo do piloto e é certo que estarão na luta por vitórias muito brevemente.
Sendo uma temporada de grandes mudanças, a equipa que acertar no conceito base levará uma vantagem inicial, mas o desenvolvimento destes monolugares deverá ser rápido e irá certamente provocar várias alterações no domínio desta temporada.

Para terminar, falar do calendário. Este ano estão previstas 23 provas, com a estreia de uma segunda prova nos EUA, em Miami e os regressos a Austrália, Monte Carlo, Canadá e Japão. Sobra uma dúvida sobre quem ocupará a vaga do cancelado Grande Prémio da Rússia, sendo que se perfila o circuito de Nürburgring como o principal candidato.