Até sempre, Chalana

Sou portista, mas, talvez por nunca ter visto o meu clube enfrentar Chalana “em direto”, nunca nutri por ele aquela antipatia, que é até saudável termos pelos craques do rival, e para isso muito contribuiu ser barreirense, onde Fernando Chalana é uma instituição.

Na geração dos meus pais, vários eram aqueles que se gabavam de ter conhecido, e até jogado à bola com Fernando Chalana. Havia um orgulho da terra que transcendia cores clubísticas e ódios antigos. Chalana era O Chalana. Era algo maior. Um dos prodígios da terra e um dos heróis da geração anterior à minha.

Dizia o meu avô, um portista ferrenho, “o Chalana era um malandro”. Na altura desconfiava daquele homem baixinho e de bigode, que me podia intrujar a qualquer momento, mas mais tarde percebi que não o dizia com maldade, mas com aquela admiração de quem o viu jogar e o temeu. Chalana era o tipo bom de malandro, o malandro com bola, que engana o adversário no relvado e não fora dele.

Do que vi, de gravações antigas cheias de grão, era realmente “um malandro”. Um malandro difícil de parar, ágil, baixinho e esguio, daqueles que hoje sairia por muitos milhões do Benfica (se antes não fosse convertido a lateral esquerdo por Jorge Jesus). Chalana era o que o futebol deve ser: hipnotizante.

Mas, o que mais admirava em Chalana, não era a sua capacidade com bola, as suas fintas ou os seus golos, nem sequer o que fez pela Seleção, mas a sua dedicação ao seu clube, que representou mais de 300 vezes e pelo qual marcou 47 golos, e ao qual dedicou, praticamente, toda a sua vida, enquanto a saúde o permitiu. Essa característica cada vez mais difícil de encontrar e que para mim, ainda vale mais que o talento.
Até sempre, Chalana.

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