Como seria o Benfica de Roger Schmidt?

Quem é Roger Schmidt?

Roger Schmidt tem 55 anos e era um perfeito desconhecido até ter dado o salto do Paderborn para o RedBull Salzburg na época 13/14.

Numa equipa onde ajudou a lançar nomes como Sadio Mané, Kevin Kampl ou Valentino Lázaro, Schmidt foi campeão uma vez em duas épocas e ganhou uma taça da Áustria, atingindo ainda uns oitavos de final da Liga Europa no caminho. A forma agressiva de jogar na segunda época, chamou a atenção do Bayer de Leverkusen onde passou 2 épocas e meia, acabando a primeira época na quarta posição, a seguinte na terceira e sendo despedido a meio da última, após uma goleada (6-2) com o Borussia Dortmund.

Seguiu-se uma a aventura na China, de onde trouxe uma taça em três anos, rumando mais tarde ao PSV onde o seu destino primeiro se cruza com o Benfica.

No PSV tardou a convencer os adeptos e os próprios jogadores, insistindo numa táctica que não tirava o melhor partido dos jogadores disponíveis. Foram feitas adaptações e chegou-se a um meio caminho entre o esquema de Schmidt (4x2x2x2) e o do PSV (4x3x3) que agradou a todas as partes e a chegada de Mario Gotze, colou todas as peças, e a partir daí a equipa cresceu bastante.

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Que tipo de futebol as equipas dele jogam?

Baseando-me apenas no Leverkusen e no PSV. Schmidt é um produto da escola alemã e tem as suas principais bases assentes nesses mesmos princípios.

A defesa joga alta, para diminuir o espaço disponível para o adversário jogar e aquele em que a sua equipa precisa de pressionar. À imagem de Rangnick, gosta de congestionar o centro do terreno, obrigando o adversário a fugir para as alas, onde automaticamente tem menos linhas de passe (porque de um lado tem a linha lateral) e é mais susceptível à pressão. As equipas de Schmidt são frenéticas sem bola, para que o adversário não tenha tempo de pensar o jogo e acabe por recorrer ao passe longo ou acabe por cometer um erro que resulta na perda de bola.

Com bola, os jogadores movem-se rápido para explorar as falhas adversárias. Quando o adversário perde a bola, precisa de alguns segundos para se reorganizar e são esses mesmos segundos que Schmidt gosta de explorar. Perdendo esse momento, as equipas de Schmidt tendem a ser pouco imaginativas, mastigando um pouco o jogo para provocar uma falha no adversário que possam explorar ou um momento de inspiração individual que possa resolver o jogo.

No fundo, mesmo que o Benfica contrate bem e venda ainda melhor, a próxima época será provavelmente de transição. Havendo paciência para isso, a época seguinte de Schmidt será provavelmente bem melhor e o “seu” Benfica já será completamente diferente.

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Como se vai parecer o Benfica de Schmidt?

É difícil de prever. O seu primeiro desenho táctico no PSV era um 4x2x2x2, com dois médios interiores ofensivos entre dois defensivos e os avançados, o seu esquema de eleição.

As críticas sucederam-se, apesar do PSV estar a jogar bom futebol. Habituados a um 4x3x3 desde os escalões de formação, os jogadores e adeptos do PSV tiveram dificuldades em adaptar-se a esta filosofia, onde não há extremos e os avançados mais fixos tendem a ter dificuldades em adaptar-se (duas das imagens de marca do PSV).

Schmidt com o tempo percebeu e adaptou-se, indo para um 4x2x3x1 (duplo pivô) mais próximo do 4x3x3 matriz do PSV, que mantinha ao mesmo tempo os seus princípios de pressão alta e Mario Gotze como ponto focal na construção de jogo.

Baseando-me nestas duas tácticas o Benfica de Schmidt poderia parecer-se com isto (com os actuais jogadores disponíveis):

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dispensas e contratações?

Jogadores como Adel Taraabt e André Almeida teriam um futuro difícil na Luz (e com isto convenci 90% dos benfiquistas). A dupla de centrais Otamendi e Vertonghen seria também desfeita, uma vez que com a defesa alta, é preciso pelo menos um central que corra para trás (que poderá ser Veríssimo). No meio-campo, o duplo pivô é algo que Schmidt não abdica, sendo por isso necessário comprar um ou dois jogadores para a posição 6 (ou talvez fazer regressar Florentino). Na frente, Everton poderia ganhar um novo fôlego. Outra contratação obrigatória, será uma referencia criativa para a equipa, como é Mario Gotze em Eindhoven. Dos avançados, seria preciso uma revolução, pois praticamente só Darwin e Gonçalo Ramos parecem ter a mobilidade que o técnico aprecia, mas caso opte por um ponta-de-lança mais fixo, Yaremchuk e até Vinícius (que Schmidt orienta no PSV, por empréstimo dos encarnados) podem ter um papel.

Sobre a aposta nos jovens, em Eindhoven, Schmidt deu a titularidade ao central Teze e ao extremo Madueke da formação do clube, tendo já Gakpo (22 anos) estabelecido no 11 quando chegou ao clube. Deu também vários minutos a Vertessen e Obispo.

Ah! Uma coisa que os benfiquistas vão adorar… Mauro Júnior, um médio ofensivo/Extremo canhoto, com Schmidt foi adaptado primeiro a defesa esquerdo e mais tarde a defesa direito, onde tem jogado os últimos jogos. Lembra-vos alguém? Será desta, Bernardo Silva?

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É o treinador adequado para o Benfica?

Resposta curta: agora não! Mas pode ser.

Com este plantel, não, de todo. Roger Schmidt tem como principal característica a intensidade (tão típica da escola alemã) e vamos ser honestos, o Benfica tem tanta intensidade como um amante de 80 anos.

A não ser que se supere essa lacuna com um mercado de verão muito bem pensado (que também não tem sido característico) é um casamento que tem tudo para dar errado, até porque Schmidt não é o mais adaptável dos treinadores.

Outra coisa que pode jogar contra o alemão é o tempo. Vindo com uma filosofia completamente diferente da que está em vigor, vai ser necessário tempo para o plantel encarnado perceber o que o treinador quer e este perceber o que pode pedir a cada jogador e/ou contratar à sua medida. No PSV esse processo demorou 3 anos e não deu em título (apesar de o clube estar melhor do que quando o encontrou). Vai haver paciência para isto na Luz? Talvez não. Até porque a não ser que haja uma hecatombe no mercado de transferências de Porto e Sporting, os dois rivais vão (provavelmente) manter os treinadores e grande parte do plantel, o que significa que vão estar muito mais bem afinados que um Benfica em transição.

Outra dificuldade que Schmidt vai ter em Portugal é o jogar contra blocos baixos e equipas muito fechadas, que na Holanda e na Alemanha não são frequentes. Contra o Benfica de Jesus, por exemplo, deu-se bastante mal contra o bloco baixo e notou-se a falta de rotinas para atacar sem espaço. Tem também algumas dificuldades nos jogos grandes, não tendo ganho nenhum jogo para o campeonato aos rivais (Ajax e Feyenoord) em dois anos.

Em todas as ligas por onde passou ficou sempre a sensação que as equipas de Schmidt podiam dar mais, mas acabavam sempre por perder pontos “estúpidos” e ficar aquém dos seus objetivos.

Ou seja: Schmidt não vai ter vida fácil no Benfica e provavelmente não é o treinador para a curto prazo regressar aos títulos, mas pode ser o treinador certo para relançar o projecto desportivo do clube e ter uma identidade futebolística que agrade aos adeptos. Não será um caminho fácil, mas no estado em que o clube está actualmente, não o será com ninguém…

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