De 8 a 80

“Welcome to the John McEnroe Show”

Esta rubrica servirá para recontar o percurso inolvidável das principais lendas dos anos 80, do ténis ao hóquei no gelo, do hóquei no gelo ao basquetebol, e das quadras para os relvados.

De indivíduos de cabeleiras ao vento, às personalidades vincadas pelos feitos registados, contamos tudo em primeira mão, tal como se estivesse a reviver a experiência ao vivo e a cores.

No primeiro episódio, fique por aí, porque vamos ao encontro da história de um tenista que dispensa qualquer tipo de apresentações, ele era o próprio show personificado, falamos é claro de John McEnroe.

Nos anos 80, o ténis era abençoado com um núcleo impressionante de jogadores irreverentes e prodigiosos, havia para todos os gostos, mas hoje o foco do Desempate será o norte-americano, John McEnroe.

Bjorn Borg and John McEnroe – the tennis heroes | SFC Riga

Um tenista que brindava os adeptos com pancadas sensacionais, com um toque de bola sublime, quer seja abrindo ângulos, quer seja executando passing shots com enorme destreza, quer seja vindo à rede para finalizar as jogadas com maestria.

E fora das quadras? Fora das quadras, também produzia momentos absolutamente marcantes, como quando se virou para o árbitro na final de 1981, diante do rival sueco, Bjorn Borg, em Wimbledon, bradando, “Não podes estar a falar a sério, aquela bola tocou em cima da linha”, ou quando indagou a outro árbitro, noutro jogo: “Não há erros, nem nada de género?” e o árbitro ignorando-o, disse: “segundo serviço”, McEnroe explodindo, retorquiu: “Responde à minha pergunta, responde à pergunta parvalhão”, assim era John, sem papas na língua.

Borg vs. McEnroe: o encontro que virou filme aconteceu há 40 anos

Ele conseguia levar os adeptos à loucura, tanto pelo espetáculo de protestos, como por um ténis estonteante, em que os volleys magníficos, o jogo de pés que o faziam mover que nem uma gazela cobrindo todo o court, e os festejos efusivos, seguidos de saltos, criavam para si uma identidade autêntica e para nós um misto de sensações. Ou se gostava e admirava, ou não se suportava e torcia-se para que perdesse sempre. Este é o efeito polarizante de um vencedor.

O desejo e a sede de ganhar eram insaciáveis, marcas de um campeão, ingredientes que contribuíram para a receita de uma carreira lendária, em que se podem elencar 77 títulos em singulares, 72 títulos em pares, o maior número combinado de títulos na Era Open, 149, além de um registo como número 1 do ranking em ambas categorias.

O maior rival que teve pela frente foi mesmo Bjorn Borg, a quem venceu 11 partidas das 22 que jogaram entre si.

Porém, duelo nenhum seria maior que aquele que para muitos ficaria eternizado como um dos melhores de sempre, senão o maior da história do ténis, a final de 1980.

Foi na relva do All England Lawn Tennis and Croquet Club, na Inglaterra, em Wimbledon, num choque titânico, ao cabo de 3 horas e 53 minutos.

Os parciais foram 1-6, 7-5, 6-3, 6-7, 8-6, para Borg.

Borg v McEnroe - 1980 Wimbledon Final Highlights (50FPS) - YouTube

Um derradeiro hino ao ténis. E que por isso merece a nossa atenção detalhada.

O quarto set:

Foi decidido num tie-break.

Logo no primeiro ponto, John McEnroe serviria de maneira exímia e partiria para cima de Bjorn Borg com um volley, o sueco defender-se-ia, mas o norte-americano receberia a bola de volta e finalizaria o ponto com um smash.

Estava feito o 1-0 para McEnroe.

A resposta não tardaria, um ponto curto, com John a enviar a bola para a rede após o serviço de Borg.

1-1.

Depois de um primeiro serviço falhado, o sueco repetiria o serviço pela segunda vez, ambos jogadores iriam trocar a bola, mas o ponto não alongaria porque McEnroe cometeria novo erro, enviando a bola à rede, era o 1-2.

Na arte do serviço volley, John era mestre, capitalizaria com o mesmo golpe, depois de servir e num subtil volley amortecer a bola para fora do alcance do rival, deixando-o pregado ao solo.

2-2.

Um serviço bem colocado do americano iria bater perto da zona central, mas não tão próximo do T, levou a precisão e a força exacta para que Borg não tivesse capacidade de responder, e por isso teve de enviar a bola para a rede.

3-2.

Com McEnroe no comando, seria a vez de Bjorn Borg servir.

O sueco encaminhar-se-ia calmamente para a linha de serviço, o que de resto era patente na frieza habitualmente demonstrada pelo atleta.

Diga-se que o serviço volley de Bjorn Borg era fenomenal, recorde-se que este tipo de gesto era bastante comum numa altura em que as raquetes eram de madeira.

Seria a este golpe que o sueco iria recorrer para empatar a partida, sendo que John enviaria a bola para fora numa subida à rede, isto depois de tentar devolver a combinação serviço volley de Borg.

Bjorn Borg and John McEnroe – the tennis heroes | SFC Riga

3-3.

Pela frente haveria muito por jogar, na mudança de rede via-se na linguagem corporal do norte-americano uma certa frustração por não ter aproveitado a oportunidade anterior para passar para a frente do resultado.

Já com os dois tenistas posicionados de maneira distinta daquela que iniciaram a contenda, Bjorn Borg veria o serviço embater na tela e teria de repeti-lo.

Mas na sequência, não vacilaria e não daria qualquer tipo de chance ao americano, servindo com autoridade. McEnroe acabaria por mandar para fora a bola na devolução.

3-4.

Pela primeira vez no tie-break, a liderança não seria de John, mas teria de ser ele a ter de ir atrás do prejuízo.

John não demoraria nada até empatar o duelo, para isso bastaria o serviço, um disparo que Borg não teria qualquer hipótese de responder, acabando por devolver para fora.

4-4.

Teríamos novamente McEnroe a servir, o norte-americano mandaria a bola à tela uma vez, e mandaria a bola à tela outra vez, à terceira encaixaria o serviço da maneira correcta.

No entanto, Borg fez das suas, depois de procurar um passing shot de esquerda, forçaria a que o adversário desperdiçasse um volley.

Today, our three-time singles champion John McEnroe celebrates his 60th birthday ? Wimbledon | Wimbledon | Scoopnest

4-5.

Porém, John iria repor o marcador, adivinhando o serviço de Borg e forçando-o à rede para desta feita retribuir com um winner de esquerda.

5-5.

As bolas à tela na sequência do saque continuariam a registar-se, agora com o sueco. Seguir-se-ia uma falta, e no segundo serviço, Borg passaria para a liderança ao recorrer a um novo golpe de esquerda que encostaria McEnroe às cordas. Com isto, o americano cometeria um erro atirando a bola para rede.

5-6.

Era terceiro championship point que Bjorn Borg tinha à disposição, primeiro no tie-break.

Com John a servir. E com a pressão em cima dos ombros, o americano mandaria a bola à tela. Mas num lance extraordinário, demonstrando a sua habilidade fenomenal de alcançar bolas à rede, faria um volley tremendo retirando qualquer possibilidade de ser apanhado em falso pelo sueco.

6-6.

Outra mudança de lado.

E a esquerda de Borg provocaria mais estragos e mais um passing shot, aumentando para quatro o número de championship points, sendo esta a segunda chance no tie-break para fechar e ganhar o torneio.

6-7.

O jogador nórdico lá se encaminhava para a linha de serviço no passo tranquilo, quase como se nem estivesse prestes a levantar um troféu, mas em mais um atestado da capacidade de superação do rival, McEnroe adiaria a festa com uma bela sequência de esquerdas características a uma mão, e faria tombar o sueco no relvado devido ao esforço para alcançar a bola.

7-7.

Borg levantar-se-ia sem esboçar reacções que dessem a entender o que lhe ia pela mente.

Este ponto acabaria por tornar-se no ponto mais longo até ao momento. Com ambos a trocarem a bola entre si e a mostrarem a qualidade, mas com o americano a sair por cima com um tremendo passing shot.

Com destaque para um festejo bastante notório por parte de John.

8-7.

Mas os festejos e a possibilidade de set point cairiam ao solo, tal como o corpo de McEnroe, porque desta vez o jogo de resposta ao serviço de John, levaria Bjorn Borg a executar uma direita repentina que o apanharia completamente em falso.

8-8.

Depois de ter estado no chão a recuperar das mazelas o americano teria de servir, e fê-lo tal como imaginara, uma combinação serviço volley daria novo set point a John, o segundo do tie-break.

9-8.

E se o serviço volley de John fizesse a diferença de um lado, do outro o serviço volley de Borg não ficava atrás.

9-9.

Teríamos a terceira mudança de rede.

Com o sueco a servir, bastaria um serviço potente para que McEnroe enviasse a bola para fora.

9-10.

Era o quinto championship point para Borg, terceiro no tie-break, mas John lutava com tudo o que tinha, e num belo serviço fez o sueco cometer um erro forçado.

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10-10.

McEnroe poderia ter levado a partida para set point, mas o tenista nórdico leu bem o serviço do rival, e fez mossa com duas direitas, uma das quais representou o sexto championship point do encontro e quarto no tie-break.

10-11.

Bjorn Borg partiria para servir mais uma vez, mas nesta jogada não teria a sorte do seu lado, numa troca de slices, quem levaria a melhor seria John, que graças à tela salvaria assim o sexto championship point do duelo.

11-11.

Mas Borg mantinha um nível de concentração e de precisão elevado, o que acabava por fazer McEnroe ter de reagir a altura. Desta vez, o sueco tiraria da cartola o sempre fiel serviço volley, e faria John correr de um lado ao outro do campo, contudo sem efeito.

11-12.

Seria o sétimo championship point, o quinto no tie-break, e o desfecho o mesmo, McEnroe até que daria a primeira falta, no segundo serviço fez Borg beber do seu veneno, apostando no serviço volley.

12-12.

Teríamos a quarta mudança de rede.

Como se fosse uma repetição da jogada anterior, McEnroe voltaria a falhar o primeiro serviço, voltaria a fazer serviço volley e tornaria a resultar.

13-12.

Este acabaria por ser o terceiro set point no tie-break para John, e porquê mudar o que está a resultar?

A estratégia de Borg também traria problemas para McEnroe, e o americano não sabendo como lidar com o serviço volley do sueco, faria o favor de atirar para a rede a bola, não podia acreditar no que tinha acabado de fazer, só conseguia esbracejar incrédulo.

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13-13.

Tudo igualado.

Não por muito tempo, porque quando o tenista nórdico poderia ter passado para o comando, cometeu um erro não forçado, e falhou o serviço volley.

14-13.

Era John com o quarto set point na mão no tie-break, e tal como o tinha na mão, deixaria com que fugisse por entre os dedos. É que também no serviço volley tal como o rival, falhou por completo a oportunidade de levar tudo para o último set.

14-14.

O americano tornaria a falhar o alvo, bola na rede no jogo de serviço, mas o árbitro corrigiu a chamada e mandou repetir o ponto porque considerou que a bola tocou na tela.

Na repetição, John foi expedito e terminaria o ponto com um serviço volley sem contemplações.

15-14

Seria o quinto set point para fechar o tie-break, mas Borg serviria de maneira magistral, evitando o final da quarta partida.

15-15.

Com quase 20 minutos disputados, os jogadores trocaram de rede uma quinta e última vez.

E o melhor estaria por vir da raquete de John, após uma pancada de esquerda, que obteria retorno por parte do sueco, mas faria com que McEnroe ficasse com a bola à mercê para um passing shot de direita magnífico.

16-15

Teríamos o sexto set point para fechar o tie-break, mas no serviço volley o americano não saberia concretizar a chance que dispôs, enviando a bola para longe do alvo.

16-16

Na jogada seguinte, Borg arriscou o winner, mas a bola falhou a linha.

17-16

Como um gato com sete vidas, McEnroe sobreviveu a vários championship points, e seria à sétima que terminaria o tie-break, vencendo por 18-16.

18-16.

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Pese embora tenha sido aqui que o fósforo acenderia a rivalidade, e no ano seguinte John McEnroe ter-se vingado da derrota com o sueco, ao aplicar um 4-6, 7-6, 7-6, 6-4, em 4 sets. Erguendo pela primeira vez o troféu em Wimbledon.

Ambos já haviam disputado a final do US Open de 1980, a 5 sets, com a vitória a sorrir ao homem da casa, John McEnroe por 7-6, 6-1, 6-7, 5-7 e 6-4.

Os dois rivais mediriam forças novamente em 1981, mas o americano tornaria a sagrar-se campeão em casa, alcançando o 3 título no US Open, a juntar aos que tinha vencido em 1979 e 1980.

McEnroe terminaria a carreira com 7 majors ao todo, enquanto Borg finalizaria com 11.

Laver Cup в Twitter: "Confirmed: tennis legends Bjorn Borg and John McEnroe will continue in their role as #LaverCup team captains in 2020, steering their teams in pursuit of the coveted Laver

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