Devias saber…

“cause you said forever now I pass alone past your street”. – Assim termina o refrão de Drivers License de Olivia Rodrigo, a neo-pop star com nome de vizinha do 4º frente do prédio ao pé da farmácia.

É um refrão que na sua essência reflecte o que sinto em relação a João Noronha Lopes.

Primeiro, uma reflexão. Uma das diferenças entre as pessoas mesmo muito inteligentes e os limitados como este que vos escreve é a capacidade de argumentação. Se algum de vós é como eu, então sabe o que é estar convicto de algo e de repente, no fim ou no meio de uma conversa, sentir-se convencido do contrário, ou pelo menos, rever o grau de certeza em baixa.

Esta capacidade argumentativa é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. Muitas vezes o sujeito inteligente cai no cadafalso de argumentar de tal maneira que se convence a si próprio. A partir desse momento age não como alguém que mudou de opinião, mas como alguém convicto que aquilo que disse agora é complemento ou excepção do que agora pensa.

Peço desculpa pelo raciocínio longo mas nós, os mais burros, precisamos de tempo. Vamos ao Noronha.

Quando Noronha Lopes disse “Pelo Benfica darei e farei tudo o que estava ao meu alcance”, queria dizer “..ao meu alcance, se não me calhar no horário de trabalho”.

Quando Noronha Lopes disse “É por isso que vou a votos, para fazer disso uma missão de vida” era “a não ser que tenha aquele golfe malandro com brunch”.

Quando Noronha Lopes disse “Não delego nem delegarei o futuro do Benfica em ninguém” ele queria dizer “a não ser que o adversário seja o Rui Costa, o Benfica esteja com problemas financeiros e ainda por cima calhe em cima do Oktober Fest, que tenho lá um amigo e quero muito ir este ano”.

Ou seja, Noronha Lopes deu razão aos que diziam que a candidatura que apresentou era contra Vieira e não pelo Benfica. Noronha Lopes deu razão aos que diziam que não se candidataria contra Rui Costa por medo de perder por muitos. Noronha Lopes deu razão aos que diziam que se quis candidatar na altura porque o Benfica estava melhor financeiramente.

Mas mais importante que isso, Noronha Lopes desiludiu quem nele votou. Mais de 30%. Eu, por exemplo, depois de mais de 3 horas na fila. E agora nada. Zero. Nem Araújos Pereira, nem Pedro’s Ribeiro, nem Bernardo Silva. Nada. Pediram eleições, forçaram demissões e agora, nada. Como é possível? O que é que mudou além da saída de Luís Filipe Vieira? Já está tudo bem?

“Foram razões pessoais e profissionais”. Não pode ser. É que as razões pessoais e profissionais apresentadas foram as mesmas que foram apresentadas como arma eleitoral, como contraponto com Vieira, como ponto de honra de abnegação. Foi-nos dito que era um sacrifício assumido, conhecido, desejado e necessário.

E agora nada. Vai Benitez a jogo. Qual Robert the Bruce no fim do Braveheart, para lutar pelo que acredita e com a morte eleitoral ganhar a liberdade da sua coerência.

Já vi golos nos descontos que valeram campeonatos, competições europeias que voaram por causa de meias ou más arbitragens. Vi goleadas em casa e fora. Mas nada me custou mais que esta derrota do que deveria ter sido um projecto que nos prometeram seria defendido até ao fim.

Sou burro. Sou capaz de ser convencido do contrário por bons argumentos. Mas como diria Alanis Morrisette “does she know how you told me you’d hold me until you died, but your still alive”. João Noronha Lopes….Devias saber.