Finalmente, as finais!

Happy Slam concluído, os Australianos celebraram Barty, Kyrgios e Kokkinakis e Nadal fez história ao levantar o 21º título de Grand Slam do seu palmarés

O de Manacor não fez a coisa por menos: tornou-se no quarto jogador a limpar todos os torneios do Grand Slam pelo menos duas vezes (Djokovic também está neste lote), e fê-lo ao fim de uma duríssima e épica final frente a Daniil Medvedev, que deixou escapar a hipótese de ser #1 do Mundo ao perder frente ao espanhol.

 

COMO NADAL DESTRONOU MEDDY

Nem ele próprio saberá explicar, ao cabo de tantas horas em court, do alto dos seus 35 anos e após várias lesões à mistura. É certo que o moscovita tinha mais horas nas pernas, mas Rafa já não tem a frescura de outros tempos. Assim sendo, teve de escudar-se na estratégia de jogo.

 

E essa, meus caros, para quem acha que Rafa é uma parede e que joga sempre da mesma forma (massacrando esquerdas para abrir a sua direita cruzada ou paralela), foi mudando de forma cirúrgica: desde bolas curtas, slices de esquerda que foram desposicionando o russo, até a um jogo de rede anormalmente afinado para um tenista do seu estilo (um baseliner puro). Houve um rally de 40 pancadas que foi resolvido graças a este mágico slice

 

O MINDSET DE UM ESPARTANO

Nadal é um dos guerreiros mais implacáveis do ténis, porque não, do Desporto, de uma forma geral. A sua garra, o querer sempre mais quando já a alma já não pode, determinaram que se tenha tornado no señor 21, olhando Federer e Djokovic pelo retrovisor. Nadal teve break points a 2-3, 0-40 no terceiro set. E não perdeu a concentração quando levou break a 5-4, 0-30 no quinto.

 

PALMAS PARA MEDDY

Não restam dúvidas. Daniil vai pegar no testemunho que Rafa, Nole e Roger deixarão após se retirarem. É o único com a garra que faz lembrar Rafa. Tem o contra-ataque mortífero de Djokovic (muitos não apreciam o estilo de jogo de Medvedev porque bebe muito de Novak, ou seja, mais um baseliner puro, que arrisca pouco e espera o erro do adversário) e tem a inteligência cirúrgica de um Federer, na forma como prepara os pontos, lê o jogo adversário e pica quando vê uma aberta.

Aliás, uma das características mais interessantes de Medvedev (esta é apenas sua, não vai buscar a ninguém) é a forma como distribui os seus mind games, por vezes queixando-se, comentando após pontos dos adversários, tentando desestabilizá-los… um dos momentos mais curiosos foi frente ao Norte-Americano Maxime Cressy

um serve and volleyer como há muito não se via. Medvedev, às tantas, solta um “this is so boring…” quando corria atrás das bolas. Admitiu, no final do jogo, que quis apenas meter-se com Cressy, baralhar-lhe o sistema.

Medvedev é isto e muito mais. É um tipo que pensa pela sua cabeça, nesse aspecto uma ave mais rara que Nadal, Roger e Djokovic, que por vezes soam a marcas a falar.

Dará certamente mais cartas ao longo do ano, da carreira, e estaremos cá para aplaudir os seus feitos.

 

BARTY PARTY

O D deixou passar algo simbólico: os australianos não festejavam um campeão de singulares desde Chris O’Neil em 1978. Numa final relativamente interessante (sobretudo no segundo set), sobressaiu a experiência de Ash, que fechou para o seu lados os pontos mais importantes, castigando (e de que maneira) o fraco serviço de Danielle Collins, que se revelou uma lutadora do caraças (espantosa esquerda, provavelmente das melhores do circuito feminino).

O primeiro set não teve grande história nem picante, foi no segundo que as coisas ganharam alguma graça, quando a Norte-Americana abriu 5-1 em cima de Barty, que não tinha resposta para o jogo agressivo e pancadas ‘antes da hora’ de Danielle. Com a ajuda do público, que estava literalmente em pulgas (e que respeitou Danielle, que lutou por cada ponto como se estivesse a lutar pela sua vida; garantiu, com a presença na final, a entrada no top 10 do WTA), Barty lá deu a volta ao texto, muito graças ao seu serviço e à sua direita, que esteve perra no primeiro set, mas que se soltou (e de que maneira) no segundo.

De repente, o set que estava na mão de Danielle virou 5-5. Estávamos às portas do tie break. Com o serviço da Norte-Americana a fazer tantos danos como uma peninha a raspar num Tiger I da 2ª Guerra, o desfecho era fácil de prever: jogo, set, encontro e championship para Barty, ela que recebeu o troféu das mãos de Evonne Goolagong, compatriota e ex-campeã, elas que partilham origens nativas (o pai de Ashleigh, Robert, é um Indígena Australiano da tribo Ngarigo).

Ou seja, a final feminina teve a sua dose de emoção, mas assim que Barty engatou, a coisa não tremeu por aí além. Danielle terá de melhorar (e muito) o seu serviço, quer o primeiro, quer o segundo, mas fica na retina (e no ouvido) o seu simpático discurso de runner up.

 

OS SPECIAL K’S

Foram a sensação do torneio de pares, algo que nunca se resumiu nem se falou quando se discutem Grand Slams. “Então e aquele jogão de pares, ali aquela meia-finalona com quatro mânfios?…” era uma frase imaginada… para otários. Pois bem… enter Nick Kyrgios e Thanasi Kokkinakis (australianos de ascendência grega, como qualquer um dos apelidos sugere), sempre eléctricos, sem papas na língua, que varreram literalmente o torneio de pares masculinos.

Kyrgios, inclusive, varreu um adepto na final

Nick começou 2022 em grande, fazendo um rebranding total à sua imagem de enfant terrible. Colocou-se ao lado de Novak Djokovic na questão deste ter sido ‘barrado pelos porteiros’ do Aus Open, ele que já disse snakes and lizards sobre o sérvio

e, em pares, parece ter encontrado o palco perfeito para um estilo de jogo mais descontraído, sem pressão, pode distribuir trick shots a murro, servir por baixo, mandar bocas, enfim, talvez tenha encontrado um espaço que, após a eliminação frente a Medvedev em singulares, ninguém conseguiria prever.

Kyrgios é o que se segue neste vídeo: um entertainer, um fanfarrão, um tipo que, de facto, dá uma visibilidade brutal ao Ténis

e os números que o D consultou não mentem: houve jogos de Kok e Kyrgios que tiveram audiências a rondar os 300 mil espectadores, algo pouco visto até pelo circuito de singulares…

Kyrgios campeão de um Grand Slam. Parece o início de uma anedota, só que não é!

 

E ELAS, AOS PARES?

Claro que, com quatro australianos a disputar o título, a final deles seria sempre mais apelativa. A final de pares femininos, essa, teve muito menos gente. O que se lamenta, porque até se falou português

Bia Haddad Maia, Paulista de 25 anos, esteve afastada por doping, teve um tumor retirado da sua mão esquerda, e tornou-se na primeira brasileira finalista do Aus Open desde a era Open, ou seja, corria o ano de 1968. Valeu, mermã.

O título de pares escapou para as ‘Tchecas’ Krejcikova e Siniakova, numa partida que foi à negra.

 

E ‘prontos pá’, está feito. Venha Roland Garros.

Foi giro, Austrália. Voltaremos para o ano!

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