Mercadona, um duelo de irmãos e o Villarreal

Esta história poderia ter vários inícios, mas vamos optar por começar em 1977, quando Francisco Roig abre o seu primeiro supermercado, ao qual decide chamar Mercadona, que se tornará nos 43 anos seguintes num Império Ibérico, e cuja maioria das acções (89%) ainda se encontram divididas entre os seus três filhos, Juan (atual CEO da Mercadona e aquele cujo nome podemos esquecer porque não interessa para esta história), Paco e Fernando.

Em 1994 Paco Roig torna-se presidente do Valência Futebol Club, um ícone da cidade onde nasceram e do futebol espanhol. Na companhia do irmão Fernando, gere o clube durante três anos, Em 95/96 conseguem um impressionante segundo lugar, a apenas quatro pontos do campeão, Atlético de Madrid e com mais 13 pontos que o 6º classificado… um tal de Real Madrid. Nos anos seguintes, Paco e Fernando decidem separar-se por terem opiniões diferentes sobre a forma como o clube deveria ser gerido, levando a que Fernando se afaste do clube Valenciano e partisse em busca de um projecto só seu… que encontrou, 60 km “ao lado” e uma divisão abaixo, numa cidade cuja população inteira caberia dentro do Mestalla (Estádio do Valência)… o Villarreal CF.

Nascia assim o Derby de la Comunitat (o Derby da Comunidade Valenciana) onde o poderoso e histórico Valência se vê desafiado pelo “irmão mais novo”, o pequeno Villarreal, que anos antes andava perdido pela 3ª divisão espanhola.

Apesar de recém-chegado à segunda divisão, Fernando conseguiu a promoção à principal divisão espanhola logo na primeira época, na qual se estreou logo com o Real Madrid de Raúl, Mijatovic, Seedorf, Redondo… correu tão bem (4-1), que no ano a seguir estavam de volta à segunda divisão. Mas o bichinho ficou lá e na época de 99/00 regressam, desta vez, para ficar… com tantas ganas que ficaram em sétimo lugar.

As épocas seguintes não foram tão boas, com dois 15ºs lugares consecutivos, até terem ido à Argentina buscar Manuel Pellegrini, que os conduziu a um terceiro lugar no seu primeiro ano e a um segundo lugar no quinto ano do clube, treinando jogadores como Riquelme, Forlán, Marcos Senna, Santi Cazorla e Capdevilla, cuja passagem pelo Benfica nunca será esquecida pelos seus adeptos, sempre que fizerem uma lista de flops do clube…

Durante a primeira década do Século XXI “El Submarino Amarillo” (nome pelo qual ficaram popularizados, devido à cor das camisolas) foi-se tornando uma referência no futebol espanhol e europeu. Em 2011 tiveram a “sorte” de se cruzar com o Futebol Clube do Porto de Villas Boas, Radamel Falcão e Hulk, sendo eliminados com um poker de Radamel Falcao num 5-1 no Dragão (ainda assim melhor que o Benfica essa época…) e uma vitória por 3-2 em casa, insuficiente para travar os Dragões.

A 6 de Junho de 2012, o clube escolhe Manuel Preciado como treinador, um homem que nos últimos 10 anos vira morrer a esposa de cancro, o filho de 15 anos num acidente de carro e o pai atropelado… um homem que se diz, fumava 40 cigarros por dia! Um homem que a 7 de Junho de 2012 foi encontrado morto, fulminado por um ataque cardíaco num quarto de hotel. Sim… no dia seguinte a ser apresentado! Com este início tão promissor, o clube teve uma época terrível, terminando num impensável 18º lugar e descendo de divisão, pela segunda vez na presidência de um Fernando Roig, que acompanhou em lágrimas o jogo que decidia descida na tribuna presidencial, contra o rival Valência.

O regresso deu-se logo na época seguinte, após um segundo lugar atrás do Elche (que se aguentou tanto tempo na La Liga que aposto que todos somos capazes de dizer o nome de um jogador que tenha passado pelo Elche… só um… não? Cristian Sapunaru… não estavam à espera pois não? Nem eu! Acho que nem ele, quando poucos anos antes ganhava ligas europas e distribuía selos em stewards da Luz!). Desde então, o Villarreal de Fernando Roig tem apostado num projecto sustentável, investindo nas infraestruturas de treino e na comunidade local, que tem dado frutos.

Com uma equipa formada maioritariamente por jogadores locais, o Villarreal conta com vários jogadores da sua formação, como Pedraza, Mói Gomez ou Pau Torres ou formados no rival Valência, como Paco Alcácer, Jaume Costa ou Dani Parejo (este último o jogador que marcou o golo que em 2012 decidiu a descida de divisão do Villarreal… irónico).

O Villarreal é cada vez mais um clube a ter em atenção, com um projecto desportivo equilibrado e muito competente, um estádio com uma lotação equivalente a metade da população total da cidade (e que enche!!!) e uma equipa com jogadores como Gerard Moreno, Samuel Chukwueze, Coquelin,  Rulli, Dani Parejo e Paco Alcácer que causaram estragos na Liga Europa, com um treinador experiente como Unai Emery (também ele, ex-Valência), que ganhou a competição europeia por três vezes (ao serviço do Sevilha), levantando a quarta esta época, o primeiro grande título do “Submarino Amarillo”.

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