Mundiais com história(s)

São 94 anos, 21 edições e 79 nações de história e de histórias por contar. Polémico ou não, é a prova rainha do futebol de seleções, vista por mais de 50% da população Mundial. Cada Mundial tem as suas histórias e se algumas, são impossíveis de esquecer, como o soco de João Pinto ao árbitro, a mão de Deus ou o 7-1 da Alemanha ao Brasil, há mais algumas histórias que deviam ser recordadas. Mas há muitas mais que ficam quase esquecidas e são igualmente loucas e dignas de ser recordadas. Ficam aqui cinco.

 

As quatro estrelas do Uruguai

O Uruguai tem duas vitórias na competição, 1930 e 1950. No entanto, por cima do escudo da federação, estão quatro estrelas, colocando os sul-americanos lá em cima na lista de vencedores, ao lado da Alemanha e da Itália e apenas um atrás do Brasil. Então, mas como é que é isso? Perguntam vocês. A Federação Uruguaia venceu os dois primeiros jogos Olímpicos 1924 e 1928 e como foi a primeira vez que houve um torneio mundial de seleções e o Mundial da FIFA ainda não existia, mais uma estrelinha para cada. O caso está em discussão com a FIFA, a quem os uruguaios acusam de querer “apagar” o seu legado futebolístico. Exigir títulos de uma competição, por ter ganho uma coisa que existia antes… o que esta malta não faz para que o Coates não sinta saudades de Alvalade enquanto está fora.

4 World Cup Titles? Why Does Uruguay Have 4 Stars On Their Kit? - Footy Headlines

Quando Middlesbrough foi norte-coreana

A Guerra da Coreia havia terminado na década anterior e a Coreia do Norte era já o país isolado que hoje “conhecemos”, quando, após muita discussão entre o estado e inglês e a FIFA, a seleção deste país chega a Inglaterra para disputar o Mundial 1966. A simpatia dos norte-coreanos à chegada a Middlesbrough (onde estagiaram), cantando músicas patrióticas (ou músicas sobre o que gostavam de fazer às inglesas presentes… acho que ninguém sabia coreano para confirmar) e a sua educação durante toda a estadia, fez com que os middlesbroughenses (sim… é assim que se diz, vi na net) se “apaixonassem” pelos asiáticos, que ainda por cima trajavam de vermelho, como a equipa local. O apoio não esmoreceu após a primeira derrota por 3-0 com a União Soviética e depois de um empate com o Peru, os coreanos chocaram o Mundo com uma vitória por 1-0 à Itália, que os levou à fase seguinte, onde encontraram Portugal e começaram a ganhar 3-0… só que depois aconteceu Eusébio e os coreanos foram eliminados do torneio.

Em 2002 os heróis de 66’ voltaram a Middlesbrough (sim, às vezes há pessoas que saem da Coreia do Norte) e em 2010 a equipa feminina do Boro fez uma tournée na Coreia do Norte.

When Boro fell in love with North Korea: Historic World Cup triumph to be revisited at festival - Teesside Live

Uruguaios… outra vez os uruguaios

Em 1930, o Uruguai recebia o Mundial e iria disputar a primeira final de sempre, com a rival Argentina, em Montevideo. Tanto os uruguaios como os argentinos tinham terminado a fase de grupos apenas com vitórias e vencido as suas meias-finais por uns expressivos 6-1 (contra Jugoslávia e Estados Unidos respetivamente).

O clima era tenso e a polícia revistou os adeptos à entrada do estádio, apreendendo 1500 revólveres (sim, mil e quinhentos) no processo. Parece que no Uruguai, chamar “boi” ou questionar a monogamia da mãe do árbitro, não é suficiente. O jogo terminaria com uma vitória do Uruguai por 4-2.

1930 FIFA World Cup Uruguay™

A maldição do México

O México é das seleções com mais qualificações para mundiais, tendo falhado apenas 5 até hoje (três por não se qualificar, um por desistir da qualificação e mais recentemente o Itália 90, por estar banida, após usar jogadores mais velhos no Mundial Sub20).

Tirando isso estiveram presentes em todas as provas, indo duas vezes seguidas aos quartos de final, mas o que é curioso é o registo recente. Desde 1994 que os aztecas chegam aos oitavos de final e ficam por aí. São sete edições seguidas a passar a fase de grupos, algo que durante esse período, apenas o Brasil conseguiu (a Argentina e a França ficaram pelo caminho em 2002, a Inglaterra em 2014, a Itália em 2010 e 2014, etc).

No México é já bem conhecida a maldição “del quinto partido” e especialmente tendo em conta que em 2005 e 2010 os sub17 mexicanos foram campeões do Mundo, com essas lendas do FM que eram Carlos Vela e Giovanni dos Santos na primeira e ninguém digno de recordar na segunda, as expectativas eram um pouquinho mais altas.

The Mexico national team lands in Barcelona ahead of the 2022 World Cup - AS USA

Roubo do Troféu

Antes do troféu que conhecemos hoje, a seleção vencedora recebia o Troféu Jules Rimet, usado até aos anos 70, assim chamado em homenagem ao presidente da FIFA que criou a competição.

Durante a II Guerra Mundial os Nazis tentaram apoderar-se do troféu que estava, à época, na posse dos italianos, vencedores em 1938, mas o presidente da Federação Italiana de Futebol conseguiu resgatá-lo e escondeu-o debaixo da sua cama numa caixa de sapatos, até ao final da guerra.

Na noite de 20 de Março de 1966, três meses antes do Mundial de Inglaterra, o troféu era roubado de Westminster Central Hall, onde estava em exposição. Foi pedido um resgate de 15 mil libras, que foi recusado, e começou uma busca louca que só foi resolvida 7 dias depois, por Pickles, um cão que foi à rua fazer um xixi e voltou com um troféu embrulhado em jornal que encontrara (enquanto isso, o meu só traz paus!). O dono de Pickles foi recompensado com 6 mil libras, os ladrões foram eventualmente descobertos e presos e a Inglaterra levantou o troféu Jules Rimet nesse verão.

Quatro anos depois o troféu foi para o Brasil, após a sua vitória no Mundial de 70… e foi roubado! O golpe foi orquestrado por três sujeitos com nomes vilão de Tio Patinhas da história: Chico Barbudo, Luiz Bigode e Sérgio Peralta, que o derreteram e transformaram em barras de ouro. O atual troféu estreou-se na edição seguinte e da Taça Jules Rimet sobra apenas uma réplica, exposta na sede da Federação Brasileira de Futebol. O troféu que sobreviveu a uma guerra mundial que destruiu a Europa, não durou um ano no Rio de Janeiro…

FIFA World Cup trophy: History, design and more

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