O ano da paridade

A época de 2021 deve ser a época de sonho de Roger Goodell e companhia, tal o equilíbrio e a imprevisibilidade que se verificaram até ao momento. Para comprovar esse equilíbrio basta dizer que na AFC, a duas semanas do fim da temporada regular, apenas os Kansas City Chiefs asseguraram a presença nos playoffs, sendo que entre o actual 7º colocado (Miami Dolphins, 8 vitórias, 7 derrotas) e o 13º (Denver Broncos, 7-8) há apenas um jogo a separá-los. Na NFC já temos cinco equipas confirmadas na pós-temporada, havendo ainda cinco candidatos com hipóteses realistas de ocupar as restantes duas vagas. Este ano civil já não há mais futebol para ser jogado, altura ideal para uma pequena análise ao que foi a temporada até ao momento.

 

Começando pela AFC, se actualmente parece território de Kansas City, não foi sempre assim. Na semana 7 a equipa de Andy Reid somava três vitórias e quatro derrotas, incluindo duas derrotas pesadas contra Buffalo (em casa, 20-38) e em Tennessee (27-3). Nesse início de temporada tanto o ataque como a defesa estavam irreconhecíveis, com Patrick Mahomes a passar para 18 touchdowns e 9 intercepções, mesmo que os Chiefs continuassem com uma média de 26.8 pontos marcados por jogo. No entanto estavam a permitir 29 pontos por jogo. Daí para cá, tudo mudou. Nos últimos oito jogos, outras tantas vitórias. Mahomes passou para 15 touchdowns contra apenas 4 intercepções e os Chiefs aumentaram a média para 29.1 pontos por jogo. A grande diferença porém veio da defesa, que passou a permitir em média apenas 12.8 pontos por jogo, sendo que em cinco desses jogos apenas concedeu 10 ou menos pontos aos adversários. A isto não será estranho o ingresso de Melvin Ingram, vindo dos Steelers e que permitiu a Steve Spagnuolo, o coordenador defensivo dos Chiefs, mover Chris Jones para o interior da linha defensiva, alinhando com Ingram e Frank Clark como defensive ends. Estas alterações, embora simples, elevaram o rendimento de toda a defesa. No ataque Patrick Mahomes e companhia evoluíram o seu jogo também, não procurando sempre a explosividade, o que esta época levou a muitas das intercepções do 15. Chegamos a este ponto com os Chiefs na melhor forma da temporada o que é assustador.

Porém, mesmo com a vantagem de jogarem em casa e terem uma semana de descanso (caso confirmem o primeiro lugar na conferência), os Chiefs não terão vida fácil para chegar ao Super Bowl. Buffalo, Tennessee, Cincinnati e Indianapolis têm condições para dar luta a Kansas City.

 

Buffalo tem demonstrado alguma inconsistência nos últimos jogos (4 vitórias e 4 derrotas), sendo preocupante a incapacidade de pararem o jogo em corrida dos Colts, numa derrota caseira por 15-41 em que Jonathan Taylor somou 185 jardas em corrida e 4 touchdowns (e mais um passe recebido para TD). Também no jogo em casa com New England a defesa do jogo em corrida foi problemática, com os Patriots a ganharem 222 jardas pelo chão. Neste jogo deve notar-se porém que as condições meteorológicas tiveram um grande impacto, com muito vento e chuva. O jogo em Foxborough… foi completamente diferente, com os Bills a permitirem 149 jardas em corrida aos Patriots. Com jogos contra Falcons e Jets para fechar, dificilmente a divisão escapará aos Buffalo Bills. Os Tennessee Titans nesta altura são uma equipa um pouco mais difícil de prever. Perder um jogador da qualidade de Derrick Henry iria ter impacto em qualquer equipa da liga. O poderoso running back lesionou-se no jogo da semana 8 contra Indianapolis. Na semana seguinte a uma magnífica exibição defensiva que levou os Titans a uma grande vitória em Los Angeles contra os Rams, mas daí para cá os Titans somam 3 vitórias e 3 derrotas, incluindo uma surpreendente derrota contra os Texans (parece que todas as equipas da AFC têm pelo menos uma derrota “estranha”). Pela positiva assinale-se o regresso do receiver AJ Brown no jogo contra os 49ers. Com a defesa a um bom nível e o regresso possível e esperado de Henry para os playoffs nada é impossível para os Titans.

 

Os Cincinnati Bengals serão provavelmente a maior surpresa deste grupo. O quarterback Joe Burrow vem mostrando que a lesão que lhe acabou com a temporada anterior não deixou marcas e este ano já vai com 4165 jardas, 30 touchdowns e 14 intercepções, para um passer rating de 105, apenas atrás de Aaron Rodgers neste campo. Para o ajudar viu chegar o seu antigo companheiro em LSU, o wide receiver Ja’marr Chase. A época de estreia para Chase tem sido fantástica, como mostram as 1163 jardas e 10 touchdowns conseguidos até agora. A defesa também tem estado bem, sendo a 13ª melhor com 21.6 pontos concedidos por jogo. Na defesa dos Bengals destaco Trey Hendrickson, vindo de New Orleans, já regista 14 sacks e tem sido um diabo à solta. Esta época os Bengals demoliram os Ravens duas vezes (41-17 em Baltimore e 41-21 em Cincinnati) e os Steelers uma vez (41-10 no Paul Brown Stadium). O próximo jogo (recepção a Kansas City) vai dar-nos uma ideia mais exacta da capacidade destes Bengals. Para já, mostram estar no bom caminho. Para fechar este grupo temos os Indianapolis Colts. A aposta em Carson Wentz parece ter sido acertada. Apesar de não estar a fazer uma época deslumbrante, Wentz tem sido sólido até ao momento, não correndo riscos desnecessários, sendo cuidadoso com a bola e tendo a protecção de uma linha defensiva que permitiu apenas 25 sacks em 15 jogos. Para comparar, na época passada em Philadelphia, Wentz sofreu 50 sacks em 12 jogos. Mas a grande força do ataque dos Colts tem sido o jogo em corrida. Jonathan Taylor leva 1626 jardas e 17 touchdowns em corrida, uma época fantástica para o jogador de segundo ano. A defesa tem estado muito bem também, com 17 intercepções e 14 fumbles recuperados, totalizando 31 recuperações de bola, sendo a segunda melhor equipa nesse campo. O diferencial de turnovers dos Colts é de +14, sendo o segundo melhor da liga, a par dos Dallas Cowboys e apenas atrás de Green Bay.

 

Os Colts também começaram mal a temporada, perdendo quatro dos primeiros cinco jogos. No entanto, nos últimos sete jogos apenas perderam por uma vez (contra Tampa Bay) e colocaram-se em posição de alcançar a fase decisiva da época. Nos últimos tempos os New England Patriots deram a ideia de poderem ser a equipa a bater na conferência, no entanto os jogos contra Colts e Bills trouxeram a equipa de volta à realidade, uma vez que nos dão uma ideia mais clara do que valerão estes Patriots nos playoffs. Apesar disso, se a defesa se mantiver a jogar a este nível e Mac Jones progredir nos próximos anos, Belichick vai estar de volta às decisões em breve. Este ano ainda não creio. Para terminar o capítulo AFC quero ainda abordar a situação em Jacksonville. Após a contratação muito mediática de Urban Meyer como Head Coach, tudo correu mal. Meyer trazia consigo um currículo impressionante no futebol universitário, com três títulos nacionais, dois com a universidade da Florida e um com Ohio State. Esta ligação à Florida terá sido uma das razões que levou Shahid Khan a avançar para a contratação de Urban Meyer. No entanto, as coisas começaram a correr mal logo com a composição da equipa técnica. Um dos assistentes contratados por Meyer (Chris Doyle) tinha rescindido com a Universidade de Iowa após ter sido acusado pelos jogadores de comentários racistas e tratamento inapropriado. Doyle rescindiu com os Jaguars pouco tempo depois. Em Outubro, após derrota em Cincinnati, Meyer, que é natural do Ohio, não voltou para casa com a equipa, dizendo pretender passar tempo com os seus netos, uma coisa que não tenho memória de alguma vez ter acontecido. Após isso, apareceu nas redes sociais um vídeo de Urban Meyer num bar, com uma mulher dançando perto dele. Este vídeo levou o dono dos Jaguars a emitir um comunicado dizendo que o treinador tinha que reconquistar a confiança e o respeito da organização. O reinado de Urban Meyer em Jacksonville não acabaria sem mais episódios rocambolescos: alegadamente terá confrontado os seus treinadores assistentes, dizendo que eram perdedores e ainda terá pontapeado o kicker Josh Lambo durante uma sessão de treinos. Perante todos estes factos e um recorde de 2 vitórias e 11 derrotas, não havia alternativa a não ser despedir Urban Meyer, ficando o coordenador ofensivo Darrell Bevell a orientar a equipa até ao final da época.

 

Passando para a NFC, o equilíbrio mantém-se, sendo até mais difícil prever por onde passará a decisão desta conferência. A NFC foi dominada durante algum tempo e de forma algo surpreendente pelos Arizona Cardinals. Uma série de lesões (Kyler Murray, DeAndre Hopkins e JJ Watt entre elas) acabaram por afectar a equipa que, apesar de já ter garantido a presença nos playoffs, vai com três derrotas consecutivas e já perdeu inclusive a liderança da NFC Oeste para os Los Angeles Rams. Os Rams apostaram tudo na troca de Jared Goff por Matthew Stafford. O quarterback já leva 4339 jardas e 36 touchdowns, contra 13 intercepções. Na melhor época da carreira (2011) Stafford conseguiu ultrapassar as 5000 jardas em passe e atingiu os 41 touchdowns, como comparação. A mudança de quarterback está a fazer maravilhas a Cooper Kupp também. O receiver lidera a tabela estatística com 1734 jardas e 14 touchdowns. A presença de Stafford tem elevado o jogo ofensivo da equipa, pese embora os erros nas derrotas com os Titans e com os 49ers, jogos em que o camisola 9 lançou quatro intercepções no total. Já a defesa, apesar da presença do monstro Aaron Donald, está apenas a meio da tabela (16º) em jardas e pontos por jogo. A defesa de LA pode e deve melhorar para a equipa atingir todo o seu potencial. Já na casa dos campeões Buccaneers, espera-se que a sorte com as lesões (e com o coronavírus) melhore. Neste momento os Bucs não podem contar com Chris Godwin, Leonard Fournette, Lavonte David, Shaquil Barrett e Richard Sherman por lesão e Mike Evans, Jamel Dean e Sean Murphy-Bunting no protocolo de Covid-19, a par com o Head Coach Bruce Arians, que não estará no próximo jogo. Muitos jogadores de fora e jogadores muito importantes. Vendo o lado positivo, o próximo jogo é contra os Jets, uma equipa teoricamente acessível. Tendo já a vitória na divisão garantida, os Buccaneers vão querer ganhar para depois ficarem à espera de uma escorregadela de Green Bay para garantirem o primeiro lugar da conferência. O ataque liderado por Tom Brady não mostra sinais de abrandar, mesmo com todas as ausências. Antonio Brown regressou na altura certa, após suspensão e Gronkowski continua a ser o melhor amigo de Tom Brady. O jogo em passe é mesmo o melhor da liga, com 300 jardas por jogo. O jogo em corrida ainda não conseguiu atingir esse nível e é apenas o 25º, com 101.7 jardas por jogo. Já a defesa é a 10ª da liga, permitindo 329.6 jardas por jogo, muito graças à defesa do jogo em corrida, onde é a 3ª melhor. Vamos ver como estará a saúde do grupo quando chegarem os playoffs. As duas equipas que lideram a conferência são as equipas que mais confiança me inspiram, Green Bay Packers e Dallas Cowboys.

 

Em Green Bay mora uma equipa confiante, apesar de Aaron Rodgers jogar actualmente com um dedo do pé fracturado. Os Packers abriram a época com um jogo de pesadelo, uma derrota em Jacksonville, contra os New Orleans Saints, por 38-3, que fez soar as campainhas na defesa. A essa derrota seguiram-se sete vitórias consecutivas e uma derrota em Kansas City, sem Aaron Rodgers, por 13-7. Apesar das melhorias na defesa, os Packers têm permitido muitas jardas no jogo em corrida, sendo a 18ª defesa da liga nesse aspecto. Como quase todas as equipas, em Green Bay existem algumas ausências notáveis. Realço aqui David Bakhtiari, Jaire Alexander, Za’Darius Smith e Robert Tonyan, sendo que destes jogadores apenas Tonyan já não tem qualquer hipótese de regressar ainda esta época. Com jogos contra Vikings e Lions para acabar a temporada, os Packers podem garantir o tão desejado primeiro lugar na conferência e a semana de descanso. A única coisa que me faz desconfiar desta equipa é a defesa do jogo em corrida. Se nos playoffs se cruzarem com uma equipa como os San Francisco 49ers, prevejo muitas dificuldades. Já os Dallas Cowboys, são uma equipa muito perigosa. Apesar de já terem sido derrotados por Tampa Bay esta temporada (semana 1, 31-29 em Tampa Bay) os Cowboys têm apresentado um futebol sólido, tanto ofensiva como defensivamente. A defesa, apesar de permitir 350.2 jardas por jogo (19ª) concede apenas 20.5 pontos por jogo (7ª melhor). O rookie Micah Parsons tem sido um incrível disruptor de jogo, registando já 13 sacks e 18 placagens para perda de jardas. O impacto de Parsons no jogo da linha defensiva ajudou também a que o cornerback Trevon Diggs seja o jogador com mais intercepções da liga, com 11. O ataque é o melhor em jardas por jogo (409.5), terceiro melhor no jogo em passe (282.7), sexto melhor no jogo em corrida (126.9) e o melhor em pontos (457) e logicamente em pontos por jogo (30.5). Para mim, neste momento, os Cowboys são a equipa a bater na NFC. A haver surpresa na NFC pode vir de San Francisco. Kyle Shanahan está a conseguir uma bela recuperação, após ter começado com duas vitórias e quatro derrotas. Nos últimos sete jogos San Francisco venceu por cinco vezes, incluindo jogos com Rams e Bengals. Os 49ers estão a subir de forma na altura certa e podem estragar os playoffs a alguém (estou a olhar para vocês, Rams e Packers…)!

 

Termino com a minha previsão sobre as equipas que chegarão aos playoffs e quais os jogos, começando pela AFC:

bye week: Kansas City Chiefs;

Wild Card Weekend:

Los Angeles Chargers @ Tennessee Titans;

New England Patriots @ Buffalo Bills;

Indianapolis Colts @ Cincinnati Bengals.

Na NFC, a minha previsão é:

bye week: Green Bay Packers;

Wild Card Weekend:

Philadelphia Eagles @ Dallas Cowboys;

San Francisco 49ers @ Los Angeles Rams

Arizona Cardinals @ Tampa Bay Buccaneers.

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