O estranho (o)caso de Luis Diaz

Quarta-feira, 21 de Outubro de 2020 no Etihad Stadium, 20h14. Luis Diaz recebe a bola de Mateus Uribe já no meio-campo adversário e faz uma diagonal impressionante, evitando vários defesas do Manchester City, terminando com um remate cruzado que só parou no fundo da baliza de Ederson.

Previa-se mais uma excelente época do rápido extremo colombiano que o ano passado fez 14 golos e 7 assistências ao serviço dos dragões, mas a verdade é que os números desta época ficaram um pouco aquém (11 golos e 6 assistências), sobretudo, não se verificando a evolução esperada. O treinador não mudou, a táctica continua a mesma e o plantel, no geral sofreu poucas alterações, a que se deve então a quebra de rendimento de uma das maiores promessas do plantel azul e branco?

Diaz é um extremo forte nas diagonais, muito bom a causar desequilíbrios e a encontrar espaço para o remate, havendo por isso uma clara relação entre a proximidade da área e o seu contributo para o jogo. Quanto mais perto da área jogar, mais oportunidade tem de desequilibrar o adversário e de chegar a zonas de finalização.

Esta época, com saída de Alex Telles para o Manchester United, o lado esquerdo da defesa ficou entregue ao nigeriano Zaidu, que apesar de dono de um pulmão impressionante, tem muitas carências defensivas, falhando frequentemente no posicionamento e nas intercepções, além de oferecer muito menos que o brasileiro no ataque. Se é injusto comparar Zaidu a Telles no capítulo do cruzamento, porque o agora jogador do Manchester United é acima da média nesse capítulo, o impacto de Zaidu vai muito para além disso, condicionando todo o lado esquerdo dos dragões.

O lado esquerdo do meio-campo do Futebol Clube do Porto, habitualmente ocupado por Otávio ou por Luis Diaz, tem agora muito mais responsabilidades defensivas, para compensar um Zaidu que apesar de rápido, chega tarde a vários lances. Esta compensação, obriga Luis Diaz a ficar mais longe do ataque. Também no ataque se sente essa diferença, já que uma bola nos pés de Alex Telles no flanco era quase sempre sinónimo de perigo e dado o desacerto de Zaidu no cruzamento, obriga a que o extremo jogue mais próximo de si, para dar soluções.Comparando o Heatmap de 2019/20 (esquerda) com o da presente temporada (direita), percebemos que em 2020/21 está muito mais preso ao flanco, aparecendo menos em zonas interiores. Também a sua média de remates por jogo desceu (de 1,7 por jogo para 1,3), estando menos agora menos envolvido no ataque e mais longe da área adversária.

    

O impacto no rendimento geral de Otávio é mais difícil de determinar, não só porque na época anterior jogou maioritariamente pela direita (com Corona a lateral) como porque esta época já ocupou praticamente todas as posições do meio-campo portista, mas o estilo de jogo do brasileiro não é tão dependente da proximidade da área, estando muito mais confortável em posições mais recuadas.

Neste momento, o Futebol Clube do Porto não está a tirar o melhor partido de um dos seus principais desequilibradores, que continuará a ficar aquém do rendimento que pode dar à equipa. Luis Diaz continua a ser um dos extremos mais promissores do futebol português, mas até a situação do lado esquerdo da defesa estar resolvida (seja pela subida de rendimento de Zaidu ou com outro jogador a ocupar a posição, tendo Diaz mostrado sinais positivos com Manafá nas suas costas… agora que vejo escrito soa tão mal!) o colombiano continuará a ter de sacrificar o que o seu jogo tem de melhor em prol da equipa.

 

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