
O jogo mais surreal da história do futebol
Estávamos no ano de 1945, poucos meses após o final da II Guerra Mundial e para celebrar a paz entre o Reino Unido e a URSS o Dynamo de Moscovo, a equipa mais forte do Bloco de Leste fazia uma digressão às terras de Sua Majestade. Tinham já empatado com o Chelsea (3-3) e humilhado do Cardiff (10-1), mas o treinador soviético fez questão de defrontar o Arsenal, que era a melhor equipa de Inglaterra na altura. “Vir a Londres e não jogar com o Arsenal é como ir ao Cairo e não ver as Pirâmides”, terá dito o técnico.
O jogo era amigável, mas o clima era tenso entre as nações e os Gunners contavam com vários jogadores “emprestados” por emblemas como o Stoke, QPR e Burnley para garantir a vitória (até porque muitos dos seus jogadores ainda estavam ao serviço do exército).
O jogo realizava-se em White Hart Lane, casa do eterno rival, Tottenham, uma vez que Highbury Park tinha sido convertido para um radar de antiaérea, devido aos bombardeamentos alemães. À hora do jogo um forte nevoeiro tinha-se abatido sobre o relvado, que deveria impossibilitar o jogo, mas perante os protestos dos soviéticos que não queriam perder a viagem, o árbitro (também ele soviético) deu aval para o encontro seguir.
É importante perceber que não era um daqueles nevoeiros que não se via de um lado ao outro do campo… era um daqueles que não se vê de um lado ao outro da área, levando a uma interpretação muito liberal das regras do jogo: nada é proibido desde que o árbitro não veja.
Houve várias entradas assassinas, que o árbitro só marcava se houvesse os gritos de dor, levando a que várias outras fossem assinaladas sem qualquer contacto. A certa altura, o Dynamo fez uma substituição, mas o jogador que foi substituído achou por bem ficar em campo e os adeptos do Arsenal juram que houve minutos em que havia 15 jogadores russos em simultâneo no terreno de jogo e, segundo o capitão do Arsenal, Cliff Bastin, não interessava como o faziam, se o árbitro visse a bola dentro da baliza dos ingleses, dava golo aos seus compatriotas.
A turma de Londres também não fez por menos, tendo a certa altura um jogador expulso que reentrou em campo, jogando até ao fim do encontro, evitando apenas cruzar-se com o juiz da partida.
Antes do final do jogo houve ainda tempo para o guarda-redes do Arsenal chocar contra o poste, no denso nevoeiro, e ficar inconsciente, sendo substituído por um adepto dos gunners. Basicamente, a única coisa que não saiu daquele nevoeiro foi D. Sebastião.
O jogo terminaria com uma vitória por 4-3 dos forasteiros. Fica aqui um resumo do jogo, onde (por incrível que pareça) não dá para ver os golos, mas permite perceber-se a confusão e vale a pena só pelos comentários.