O Leeds de Jesse Marsch

Depois de escapar por pouco à descida a época passada, o verão do Leeds parecia pouco prometedor, com a equipa a perder os seus dois melhores jogadores, Raphinha para o Barcelona e Kalvin Phillips para o Manchester City. Apontados como um dos principais candidatos à descida por muitos comentadores, os homens de Jesse Marsch têm dado uma excelente resposta, com 2 vitórias e 1 empate nas três primeiras jornadas e apesar de faltar muito campeonato por disputar e ser cedo para euforias, há razões para os adeptos se sentirem confiantes.

 

As contratações

Marsch herdou a equipa de Marcelo Bielsa, claramente a precisar de mexidas para se adaptar ao seu novo estilo de jogo e o mal necessário para poder investir foi ter de vender os dois principais jogadores.

As contratações foram escolhidas a dedo, num misto de jogadores que já tinham trabalhado com Jesse Marsch, e nos quais o treinador confiava, e jogadores com grande potencial. Do Salzburgo veio o lateral direito dinamarquês Rasmus Kristensen e o médio-ofensivo norte-americano Brendan Aaronson, uma das figuras do início de época, ambos jogadores com quem Marsch já tinha trabalhado. Para cumprir as funções de Phillips foram escolhidos dois jogadores e não um, Tyler Adams (com quem Marsch trabalhou em Leipzig) e Marc Roca, ex-Bayern, cumprindo o primeiro o papel de trinco puro e o segundo o de construtor de jogo recuado. Por último, para o ataque chegou Luis Sinisterra, um veloz e entusiasmante extremo colombiano do Feyenoord que, devido a uma lesão, ainda não teve muito tempo de jogo.

O Leeds continua no mercado por um avançado e por um lateral esquerdo, havendo também ainda a possibilidade de chegar mais um médio centro.

 

O processo defensivo

Marsch abandonou a táctica Kamikaze de Marcelo Bielsa que “exigia” a recuperação rápida da bola em reação à perda, levando a que muitas vezes a equipa perdesse a forma e fosse apanhada em contrapé. Abandonou também o envolvimento quase total da equipa no ataque e a dependência de jogadores-chave na construção do argentino, minimizando os riscos do esquema de “El Loco”.

Apesar de continuarem a correr quilómetros, os jogadores do Leeds passaram a pressionar com muito mais critério, procurando forçar o erro, ao invés de atacar diretamente o portador da bola, nas chamadas “armadilhas de pressão”. Um bom exemplo disso é o primeiro golo frente ao Chelsea em que antes de pressionar Koulibaly, os avançados do Leeds cortaram-lhe as linhas de passe, obrigando-o a passar para o guarda-redes Mendy. Assim que Mendy recebe a bola, Aaronson sprinta na sua direção, enquanto as linhas de passe permanecem obstruídas. A única opção do guarda-redes era o “chutão” para a frente, que o seu treinador detesta e a hesitação custou-lhe caro, com Aaronson a recuperar e a marcar o primeiro golo.

 

 

Outra armadilha comum é a “sobrepovoar” o centro do terreno, deixando as alas aparentemente desprotegidas. Assim que o jogador na ala recebe a bola, as suas linhas de passe voltam a ser rapidamente cortadas, ficando encurralado entre os adversários e a linha, sem ter para onde soltar a bola.

 

O ataque

Como é apanágio do grupo RedBull do qual é produto, Jesse Marsch joga em transição rápida, aproveitando o desequilíbrio do adversário quando perde a bola para rapidamente chegar ao ataque.

O principal esforço de Marsch desde que chegou ao Leeds foi disciplinar os jogadores para em vez de procurarem a sua referência de construção (Kalvin Phillips) escolherem eles próprios o passe que fizesse avançar a equipa, tornando o jogo muito mais vertical. Isto implica fugir ao passe óbvio para o jogador livre e procurar opções mais agressivas, na velocidade.

Um bom exemplo de ambos os pontos anteriores é o segundo golo frente ao Wolves em que a pressão obrigada Killman a arriscar um passe longo para o meio-campo, onde Struijk recupera. Daí à baliza do Wolves foram cinco passes, com Ait Nouri a acabar por fazer o autogolo a tentar cortar a bola in extremis que ia “redondinha” para o pé de um Aaronson isolado.

 

 

 

Bolas paradas

Marsch referiu já uma vez que 30% dos golos totais da MLS (Liga norte-americana) nasciam de bolas paradas e como americano, têm grande importância para si. Dos sete golos do Leeds, dois foram de bola parada e contra o Southampton várias foram as oportunidades criadas, especialmente a partir de cantos.

O livre que originou o segundo golo ao Chelsea foi claramente um trabalho de laboratório, com os jogadores mais altos do Leeds todos ao segundo poste, atraindo para lá os centrais do Chelsea e Rodrigo a aparecer ao primeiro, entre Gallagher e James, dois jogadores mais baixos.

 

Jogadores em destaque

Rodrigo – depois de dois anos a jogar no meio-campo, Rodrigo está finalmente a jogar na frente de ataque (ou sozinho ou a segundo-avançado), tendo já contribuído com quatro golos e uma assistência.

 

 

Harrison – Uma máquina. Sempre pronto a correr e a aparecer nos sítios certos, seja na ala ou no meio.

Aaronson – Incansável na pressão aos defesas, rápido, muito técnico e com boa visão de jogo, Brendan Aaronson tem tudo para se tornar um caso sério na Premier League.

Tyler Adams e Marc Roca – Apesar de algumas falhas nos primeiros jogos, por ainda se estarem a conhecer, contra o Chelsea pareciam jogar juntos há anos, complementando-se quase na perfeição.

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