O que se passa com o Leeds?
Depois de um regresso de sonho à Premier League, a terminar a época nos 10 primeiros, com um futebol atrativo e excelentes performances individuais de vários jogadores, muito se esperava do Leeds United de Marcelo Bielsa esta época, mas esta época está longe de encantar os fãs. O já conhecido “Síndrome da Segunda Época”, que dita que uma equipa que sobe e faz uma boa época de estreia, na seguinte desce ou pelo menos cai bastante na tabela, parece estar a afetar Elland Road, dando motivos para preocupação aos dirigentes e adeptos.
Comparando com a época passada, com 15 jogos disputados o Leeds tem apenas menos 4 pontos do que em 2020/21, o que lhe vale menos três lugares na tabela (caindo de 12º para 15º). Vendo apenas assim, não parece ser grave, mas há outros dados a ter em conta: o Leeds tem menos 10 golos marcados que na época passada e apesar de ter sofrido menos 8, ainda falta enfrentar Chelsea, Manchester City e Arsenal (e atenção, não enumerei à toa… são os próximos três jogos do calendário do Leeds, sendo o seguinte, já na segunda volta, com o Liverpool), todos estas equipas que o Leeds já tinha enfrentado nesta fase à 15ª jornada da época passada.
O Leeds continua a ter uma das médias de posse de bola mais altas da Premier League (57,7%), apenas atrás de Manchester City, Liverpool e Chelsea, sendo também a quarta equipa que mais remata, atrás apenas destes três. Mas parece que a bola teima em não entrar, estando a equipa excessivamente dependente da criatividade de Raphinha para resolver os encontros.
A nível defensivo, o Leeds parece estar a melhorar, apesar de ainda sofrer muitos golos absurdos, é a equipa com melhor média de desarmes (também causado pelo estilo de pressão alta de Marcelo Bielsa) e, como referi anteriormente, tem menos oito golos sofridos que na época anterior em igual período.
O que se passa então com o Leeds de Marcelo Bielsa?
Mercado insuficiente
Que não haveria muito dinheiro para investir, era sabido, mas ficaram demasiados problemas por resolver no plantel do Leeds. Os mais urgentes, como o lateral esquerdo (Junior Firpo – 15 milhões ao Barcelona) e um extremo destro (Daniel James – 30 milhões ao Manchester United) foram resolvidos, mas muitas outras posições ficaram por reforçar.
Faltaram sobretudo alternativas a Patrick Bamford e a Kalvin Phillips, jogadores essenciais e sem nenhum substituto natural no plantel e um jogador mais criativo, para dar vida ao meio-campo. O Leeds tem um plantel muito curto, com muitos jogadores jovens e sem experiência, levando à sobrecarga dos habituais titulares e a consequentes lesões.
Decidido a repetir a época passada, o director desportivo Victor Orta começa a repetir pelo menos alguns dos erros, entregando a Bielsa um plantel curto e com poucas alternativas. Investindo muito dinheiro, em poucos jogadores.
Onda de lesões
Dos mais utilizados na época passada, Kalvin Phillips, Patrick Bamford, Diego Llorente, Robin Koch, Luke Ayling, Jack Harrison e Pascal Struijk já perderam jogos por lesão esta época. No caso de Bamford (melhor marcador da temporada anterior) e Luke Ayling, foram 10 jogos de fora, em quinze jornadas. Curiosamente, ambos regressaram na 15ª jornada contra o Brentford, com o Ayling a assistir Bamford (entrado na segunda parte) para o golo do empate, aos 90+4.
No empate a um golo contra o Leicester, apenas dois jogadores no banco do Leeds já tinham sido titulares pelo clube na Premier League (Tyler Roberts e Mateuzs Klich), sendo quase todos os outros jovens, promovidos do plantel sub23. No onze estava Adam Forshaw, recém recuperado de uma lesão que o afastou dos relvados por praticamente duas temporadas inteiras.
Bamford em particular tem feito muita falta aos Lilywhites, não só pelos golos, mas pelo seu papel na manobra ofensiva da equipa, muitas vezes descendo para criar espaços para a subida dos médios a zonas de finalização ou combinando com os extremos. O avançado terminou a época passada com 17 golos e 7 assistências, mostrando bem a preponderância que tinha no ataque.
Também a ausência de Phillips (3 jogos perdidos e 1 abandonado por lesão) foi particularmente danosa para uma equipa que tem no inglês o seu maestro. Habituada a sair em posse, o critério de passe do médio defensivo é essencial, tendo sido (por exemplo) de passes perdidos pelo seu substituto contra o Manchester United (Robin Koch) que nasceram três dos cinco golos dos Red Devils.
Falta de adaptação dos reforços
O estilo de Marcelo Bielsa não é fácil e os jogadores muitas vezes demoram a fazer o que o técnico quer, mas as lesões estão a desempenhar um papel determinante na adaptação dos jogadores.
Junior Firpo tem feito parte de um quarteto defensivo constantemente retalhado pelas lesões, tal como o extremo Daniel James, que muitas vezes jogou a avançado centro, numa tentativa de substituir Bamford. É difícil criar rotinas, quando os jogadores têm de desempenhar papéis que não são os seus, ou quando jogam com colegas novos todas as semanas. Ambos mostraram já pormenores interessantes, mas até agora estão longe de justificar os 45 milhões despendidos nas suas contratações.
Conclusão
Há motivos para preocupação? Há. Há sempre que uma equipa não está no seu melhor e especialmente quando a descida é uma possibilidade. No entanto, as boas indicações da época continuam lá.
O Leeds está mais perto do top10 (3 pontos) do que da descida (6 pontos) e apesar do ciclo terrível de quatro jogos que se avizinha (e onde muito dificilmente conseguirá conquistar pontos), os regressos de Patrick Bamford e Luke Ayling parecem trazer alguma esperança para os jogos seguintes. É essencial que a equipa não se deixe levar pelo pânico nas próximas jornadas, mesmo que passe aos lugares de descida e continue a jogar o seu futebol.
Essencial também é reforçar o meio-campo em Janeiro e arranjar um suplente para Bamford, que seja uma opção credível e que possa resolver saindo do banco, principalmente porque vão começar a cair os milhões do Newcastle (actual penúltimo classificado), que podem desequilibrar a balança no fundo da tabela.