Possivelmente, a melhor Serie A dos últimos 10 anos…
O domínio da Juventus terminou e ao contrário do que se parece passar em França, que o domínio do PSG parece ter sido apenas brevemente interrompido, o da Juventus parece longe de ser retomado nos dias que correm. Findas as primeiras cinco jornadas, a Vecchia Signora leva já um atraso de 10 pontos para a frente do “pelotão”, que apesar de não impossível, parece ser muito complicado de recuperar, dada a forma actual da equipa que dominou o futebol italiano na última década.
Esta parece ser a época perfeita para um assalto ao título, com o habitual papão “fora” da corrida e o campeão em título, Inter, tendo perdido alguns titulares importantes e o treinador, estando actualmente com grandes dificuldades económicas. A luta pelo título, promete ser mais renhida do que alguma vez foi nos últimos 10 anos, em que a Juventus corria (praticamente) sozinha.
Quem são então os principais candidatos ao título esta época:
Inter
São os campeões em título e apesar das dificuldades económicas que lhes custaram Romelu Lukaku e Achraf Hakimi, dois jogadores muito importantes a época passada (o avançado esteve directamente envolvido em 35 golos e o defesa em 15 na Serie A) e o treinador, António Conte (e ainda o susto no Euro 2020 que lhes custou, para já, Cristian Erikssen) os nerazzuri começaram bem e parecem estar “aí para as curvas”.
Com um orçamento muito reduzido, os milaneses conseguiram contratar Denzel Dumfries (PSV), Matteo Darmian (Parma) e Zinho Vanheusden (Standard Liége), asseguraram o empréstimo com opção de compra de Joaquín Correa (Lázio), as contratações a “custo zero” de Edin Dzeko e Hakan Çalhanoglu aos rivais Roma e Milan, respetivamente, e ainda o regresso de Federico DiMarco, de um bem-sucedido empréstimo ao Hellas Verona. A equipa não ficou mais forte, mas não deixou de estar competitiva.
O veterano Dzeko arrancou com 4 golos em 5 jogos, Çalhanoglu fez já 2 assistências e 1 golo, Correa marcou 2 vezes (na estreia) e Dimarco e Darmian já estiveram envolvidos em dois golos cada. Nada mau, até agora, para aquele que é o melhor ataque da Serie A.
O director desportivo Beppe Marotta (o arquitecto do sucesso da Juventus) não inventou e em Simone Inzaghi encontrou um treinador com uma filosofia e táctica muito semelhante a António Conte, facilitando a transição e aproveitando o trabalho feito pelo técnico anterior. Inzaghi mantém o 3x5x2 de Conte, com a pressão no campo todo, o jogo no erro e o ataque em transição rápida. Estão até agora na pole position pelo título.
Nápoles
Do Sul de Itália vem (discretamente) uma das maiores ameaças ao título do Inter. O Nápoles não fez contratações milionárias, garantindo apenas a contratação de Matteo Politano a título definitivo, depois de empréstimo do Inter e de André Zambo-Anguissa, emprestado pelo Fulham. A melhor contratação dos partonepei não foi um jogador, mas o treinador: Luciano Spalletti.
Apesar de ter apenas 3 títulos “menores” em Itália (2 taças e 1 supertaça) e 2 campeonatos em 3 épocas completas na Rússia, o italiano é não só um treinador que conhece a Serie A de trás para a frente, como um pragmático, que tanto sabe por as equipas a jogar bom futebol, como a ser cínicas e eficazes quando é preciso.
Toda a equipa parece ter subido de produção, com o treinador, com destaque para Victor Osimhen que depois da expulsão na primeira jornada e suspensão na segunda, marcou 3 golos nos dois últimos jogos da Serie A e ainda 2 golos na Liga Europa com o Leicester (metade dos conseguidos a época passada completa). A destacar também Mário Rui, que está muito mais envolvido no ataque, tendo já duas assistências e uma média de dois passes-chave por jogo, a dupla de centrais, Kalidou Koulibaly e Amir Rrahmani (melhor defesa da Serie A, a par do Milan, até agora) e os habituais Lorenzo Insigne e Fabián Ruiz, as estrelas da equipa.
Spalletti tem apostado num 4x3x3 tradicional, com processos muito simples, uma grande solidez defensiva e ofensivamente com foco nas bolas paradas, nas diagonais dos extremos (Insigne, Politano ou Lozano) e na velocidade de Osimhen para marcar golos.
Roma
José Mourinho regressou a Itália e até agora, não parece estar a correr nada mal, mas como a época passada provou, os inícios podem ser enganadores. No entanto, no arranque, a Roma de Mourinho em nada parece o seu Tottenham. A exigência percebida da liga é menor e isso parece ter um efeito “positivo” nas tácticas do português, jogando de forma mais solta do que alguma vez jogou com os londrinos.
O mercado foi bastante positivo em Roma, tendo garantido a contratação do guarda-redes Rui Patrício, do lateral esquerdo Matias Viña, do central Marash Kumbullla a título definitivo e dos avançados Eldor Shumurodov e Tammy Abraham. Ao todo, o director desportivo Tiago Pinto gastou quase 100 milhões de euros, sem ter feito nenhuma venda de monta, mas conseguiu baixar consideravelmente a folha salarial, com as saídas de Dzeko, Juan Jesus e Pedro a custo zero e Kluivert, Florenzi, Cengiz Under e Paul Lopez por empréstimo.
Mourinho parece até agora estar a apostar num 4x2x3x1, familiar ao técnico português, com Tammy Abraham e Lorenzo Pellegrini até agora a desempenharem papéis fundamentais no esquema romano, tendo até agora garantido 4 vitórias em 5 jogos (além de um 5-1 ao CSKA Sofia na Liga Europa).
Milan
Perder Donnarumma e Çalhanoglu a custo zero poderia ter sido desastroso, ainda para mais quando o segundo vai para o principal rival, mas até agora os rossoneri parecem estar no caminho certo. Os reforços, apesar de pouco espectaculares, foram até agora, cirúrgicos.
Chegaram Mike Maignan (Lille) para a baliza, os milaneses acionaram a clausula de Tomori (após empréstimo do Chelsea), contrataram o lateral esquerdo Ballo-Touré ao Mónaco e garantiram Alessandro Florenzi por empréstimo da Roma para a ala contrária. No meio-campo, conseguiram a renovação do empréstimo de Brahim Diaz (Real Madrid) e pouco mais digno de nota. No ataque é onde há mais alterações, com a chegada de Olivier Giroud (Chelsea), Pietro Pellegri (emprestado pelo Mónaco) e ainda Júnior Messias, uma desapontante alternativa a Jesus Corona, chegado do Crotone.
Depois de uma época surpreendente, os milaneses parecem decididos a dar luta aos seus conterrâneos pelo título, mantendo a aposta no técnico Stefano Pioli e o seu 4x2x3x1, que os recolocou no mapa em 2020/21.
Até agora, quatro vitórias e um empate em cinco jogos. 10 golos marcados e apenas dois sofridos parecem ser um bom pronuncio, com Giroud a ter um arranque razoável no seu novo clube (2 golos), que o tornam o melhor marcador a par de Rafael Leão e Brahim Díaz.
Atalanta
Tornou-se a equipa fetiche de muita gente ao longo destes últimos quatro/cinco anos com Gasperini. Os bergamascos não começaram da melhor forma a época, marcando apenas 6 golos nos primeiros 5 jogos e apesar de estarem apenas a 5 pontos do primeiro lugar, o seu ataque, tão avassalador nas últimas épocas, está uns furos abaixos.
Sabe porquê que a Atalanta é “O VERDADEIRO CLUBE DO POVO” ?
A Bérgamo chegaram o médio defensivo Teun Koopmeiners (AZ Alkmaar), o lateral Davide Zappacosta (Chelsea), o guarda-redes Juan Musso (Udinese) e os centrais Merih Demiral (Juventus) e o jovem Matteo Lovato (Hellas Verona), todos reforços cirúrgicos e tendo perdido da equipa titular, apenas Cristian Romero e Gollini, ambos para o Tottenham.
Ainda a superar a falta do mago da equipa, Papu Goméz (saído em Dezembro passado) esta equipa tem tudo para quando engatar (voltar a) ser um caso sério.
Juventus
Apesar de estarem muito longe dos primeiros lugares, não podemos excluir para já a Juventus. Recuperando o treinador Max Allegri, que os levou duas vezes à final da Champions e a cinco campeonatos italianos, os bianconeri parecem apostados em recuperar a Juventus que anos antes dominava o futebol italiano.
Tendo perdido Cristiano Ronaldo, o melhor marcador da equipa Afinal, Ronaldo foi bom ou mau para a Juventus?, a Vecchia Signora teve um mercado frugal, contratando apenas Moise Kean para a frente de ataque e o médio internacional italiano Manuel Locatelli (Sassuolo). O problema da falta de criatividade no ataque persistir neste início de época, com Federico Chiesa e Paolo Dybala as únicas faíscas de uma equipa que tem sido previsível e tem apresentado muitas dificuldades em apreender as ideias de Max Allegri.
A não ser que mude muita coisa, os estragos das passagens de Maurizio Sarri e Andrea Pirlo vão demorar a ser sanados…