Quando Alex Ferguson foi agente desportivo por um dia

A Premier League estava a meio da sua 3ª época, que acabaria com o Blackburn Rovers de Kenny Dalglish a sagrar-se campeão, com Alan Shearer a fazer 34 golos numa época! Iamos a meio da época, quando, em janeiro, Eric Cantona dá a comer uma sandes de pitons a um adepto e é suspenso por oito meses, multado e ainda é condenado a 14 dias de prisão, que se convertem em 120 horas de trabalho comunitário.

Sem a sua principal referência de ataque, Alex Ferguson vira-se para Andy Cole, batendo o valor recorde de transferências da prova… que eram 5 milhões de libras (um valor que hoje não daria para pagar Wilson Manafá) que o Blackburn tinha dado esse verão por Chris Sutton.

Ferguson perdeu a cabeça e deu 6 milhões e o passe de Keith Gillespie por Andy Cole ao Newcastle, o melhor marcador da época passada (com 34 golos, sendo igualado na época seguinte, como já referi, por Alan Shearer). Para quem viveu os anos 90, Andy Cole dispensa apresentações, tendo ganho cinco campeonatos e uma liga dos campeões em Old Trafford e formado uma dupla incrível com Dwight Yorke. Mas este artigo não vai ser sobre ele, mas sobre o jovem que rumou em sentido contrário, Keith Gillespie.

Conta Alex Ferguson que o jovem de 19 anos Keith Gillespie lhe entrou no gabinete, com um ar perdido, perguntando o que tinha de fazer agora, para negociar o contrato com o novo clube. “Fala com o teu agente”, ter-lhe-á dito o treinador, ao que Gillespie respondeu “não tenho um, mister”. Hoje parece impensável, mas estávamos antes da era dos superagentes.

Ferguson decidiu então tomar o assunto nas suas próprias mãos, telefonando à mãe de Gillespie e pedindo autorização para actuar como agente do jovem e negociar, ele próprio, o contrato com o Newcastle. Resultado? Gillespie passou a ganhar o quadruplo do que ganhava em Old Trafford.

Em três anos e meio, o norte-irlandês alinhou em quase 150 jogos pelos magpies, incluindo 15 jogos europeus. Foi uma peça importante dos “The Entertainers” de Kevin Keegan que encantaram Inglaterra nos anos seguintes e terminou duas vezes a Premier League em segundo lugar. Chegou a estar associado com o regresso a Old Trafford e falou com Fergie sobre isso, mas o treinador optou por dar lugar a um tal de… David Beckham.

Os primeiros meses de Gillespie em Newcastle foram solitários, passados num quarto de hotel, abrindo portas ao vício do jogo. Ao fim de pouco tempo, já tinha uma linha directa para os bookers, perdendo centenas de milhares de libras em dias! Começou a apostar nos jogos da própria equipa (na altura não era proibido), não tendo festejado um golo de Darren Peacock (4-0) que o fez perder uma aposta num 3-0 a favor dos magpies.

A saída de Kevin Keegan (que transformou o Newcastle de um clube que lutava pela manutenção num clube candidato ao título, com dois segundos lugares em cinco épocas) levou a que Gillespie quisesse também abandonar o clube.

Seguiram-se vários emblemas, sempre sem o sucesso dos dois primeiros. Os problemas com o jogo levaram-no a declarar falência pessoal em 2010, lançando mais tarde o livro “How not to be a footballl millionaire”. Começou também a colaborar com a associação “Gambling with Lives” que visa ajudar pessoas que se viciaram no jogo.