Quem é Ralf Rangnick?

Quem é Ralf Rangnick é a pergunta do momento no futebol mundial… quem é este ilustre desconhecido das massas que chega ao comando do Manchester United, quando nomes como Zinedine Zidane e Mauricio Pochettino eram apontados como favoritos ao lugar?

 

Os favoritos fora da corrida

Zinedine Zidane e Maurico Pochettino eram os dois grandes favoritos ao lugar de Ole Gunnar Solskjaer, mas ambos eram alvos muito complicados à partida. Zidane recusou o trabalho, por não dominar o inglês a um nível que lhe permitisse ser o líder de balneário que foi em Madrid e porque a esposa não tinha interesse em viver em Manchester. Já o argentino, não foi por falta de interesse, mas o contrato com o PSG ainda o prende e para os donos do clube, ver o seu treinador a trocá-lo por outro, que veem como um igual, seria uma afronta demasiado grande para o libertarem.

Não tendo o treinador que queriam, os responsáveis de Manchester tomaram a decisão de não decidir… pelo menos para já e deixar tudo para o final da época. Entra então em cena Ralf Rangnick, que assumirá o clube até ao final da época, quando se tornará director desportivo do clube por dois anos (apesar da possibilidade de continuar como treinador não estar, para já, 100% afastada).

Um dos nomes mais influente do futebol alemão (e do futebol mundial, por consequência) Ralf Rangnick nunca esteve associado aos grandes clubes, mas é o responsável pela ascensão de dois dos maiores casos de sucesso da Alemanha no Século XXI, em ambos os casos, clubes que apanhou nas divisões inferiores, subiu e os estabeleceu como clubes da Bundesliga: o Hoffenheim e o RB Leipzig.

Manchester United in advanced talks to make Ralf Rangnick interim manager | Manchester United | The Guardian

 

Mas Rangnick não teve só sucesso como director desportivo?

Longe disso. Um pouco como Marcelo Bielsa, Rangnick nunca teve um grande sucesso como treinador, mas tal como o argentino é um romântico do futebol e muito bem visto pelos seus pares. A sua forma de jogar inspirou vários e mudou o paradigma do futebol alemão.

Como director desportivo, está associado ao sucesso do Grupo Red Bull, sendo responsável pela forma como ainda hoje o Leipzig e o Salzburg jogam, criando uma filosofia comum e procurando jogadores e treinadores que nela encaixem, criando as bases para um modelo de sucesso e um case study no futebol Mundial.

Para um clube desesperadamente à procura de um rumo, como o United, pode ser uma escolha a longo prazo bem mais inteligente do que parece à partida.

Opinion: Ralf Rangnick could be Manchester United's best move in years | Sports | German football and major international sports news | DW | 26.11.2021

Ralf Rangnick, o treinador

Rangnick, enquanto treinador não é influente pelos títulos ganhos, mas pela forma de jogar, que lhe valeu a alcunha de “O Professor” e que inspirou treinadores como Jurgen Klopp, Thomas Tuchel, Ralf Hasenhutl (os três na Premier League) e Julien Nagelsmann.

A filosofia d’O Professor é, à partida, bastante simples de perceber, mas complexa de executar. Quer Rangnick que as suas equipas demorem no máximo 15 segundos a recuperar a bola após a perder e 10 segundos a rematar à baliza, após a recuperar. Porquê? Porque é na recuperação e na perda da posse de bola que a equipa adversária se encontra mais vulnerável, pois têm de se reposicionar para atacar ou para a reconquistar. Esses segundos de “confusão” enquanto os jogadores recuperam posições, seja para atacar ou para defender, é onde Rangnick ganha os jogos.

Part 2: A conversation with Ralf Rangnick - debuts.eu

Isto, em campo, traduz-se da seguinte forma: assim que as equipas de Rangnick perdem a bola, procuram condicionar a equipa adversária, pressionando o homem que tem a bola para o impedir de poder pensar o jogo. Propositadamente, é deixado um jogador livre de pressão, para que a bola seja enviada para ele e aí é acionada uma armadilha, deixando esse jogador até então livre, sem linhas de passe directas, obrigando-o a jogar longo, o que na maioria dos casos, significa um passe menos preciso e mais fácil de interceptar.

A partir do momento em que reconquistam a bola, as equipas de Rangnick começam um processo de transição rápida, em que os jogadores tomam o caminho mais curto para a baliza, aproveitando os segundos de confusão enquanto o adversário se reposiciona para criar situações de superioridade numérica e abrir brechas na defesa.

 

Portanto, contra-ataque?

Sim e não. Uma equipa que joga em contra-ataque, normalmente fica na expectativa e deixa o adversário ir para cima de si, para depois recuperar a bola e aproveitar o espaço nas costas dele. As equipas de Rangnick não ficam na expectativa. Quer com bola como sem ela, tomam a iniciativa, obrigado o adversário a agir e não lhe dando tempo para pensar quer na forma como vai atacar, quer na forma como vai defender. Após a reconquista de bola há uma transição rápida para o ataque, que muitas vezes é, por defeito, um contra-ataque, mas não é uma filosofia defensiva e cínica, como estamos habituados nessas equipas.

 

 

O que esperar do Manchester United de Ralf Rangnick?

O estilo do técnico alemão, obriga a muito treino e muita disciplina. É um estilo de jogo em que os riscos são altos, mas as recompensas pelo sucesso também o são.

No Leipzig, Rangnick apostava num 4x2x2x2, com duplo pivot e dois médios ofensivos interiores, procurando congestionar o centro do terreno, não só em termos de pressão, mas de soluções rápidas para o ataque.

No Manchester United, deverá manter a aposta, ou pelo menos num estilo semelhante, com uma defesa a quatro com Shaw e Wan Bissaka nas alas (com Telles e Dalot a terem um novo folêgo para lutar pelo lugar, especialmente o português), e Maguire e Varane no meio. A qualidade de passe dos centrais e as subidas (à vez, mas principalmente de Shaw) serão chave no processo de construção da equipa. O duplo pivot deverá contar com o regresso de Matic à titularidade (se estiver em condições físicas), pois a sua qualidade de passe e visão de jogo, serão chave para o técnico alemão. Ao seu lado, Fred ou McTominay disputarão o lugar. À frente dos dois, Bruno Fernandes deverá jogar mais descaído para a esquerda, procurando terrenos mais centrais com bola, do outro lado, Sancho deverá abrir mais para a ala ou funcionar como um terceiro avançado. Na frente, a mobilidade de Rashford conjugará bem com Ronaldo, como referência ofensiva, podendo Greenwood ser também bastante utilizado em jogos que exijam mais mobilidade e pressão aos defesas do que o português consegue dar.

Com bola, o foco do ataque será provavelmente o flanco esquerdo, com as subidas de Shaw, a capacidade de Rashford de fugir para a ala e a criatividade de Bruno Fernandes, dando liberdade no outro corredor a Sancho para aparecer e procurar terrenos nas costas dos defesas, atraídos por Ronaldo e Rashford, o que levará a equipa a assemelhar-se por vezes a um 4x3x3.

Sem bola, Ronaldo e Bruno Fernandes, habitualmente jogadores que gozam de mais liberdade, serão obrigados a dizer “presente” e mesmo que não estejam constantemente a pressionar, serão essenciais para cortar linhas de passe nas tais armadilhas de pressão.

Paul Pogba poderá ser também um jogador importante, mas a sua vontade de sair a custo-zero no Verão e a intenção de criar um projecto a longo prazo com Rangnick, podem ditar a sua saída em Janeiro ou que simplesmente o treinador não o queira tornar um jogador-chave no esquema da equipa.

Pelo contrário, dois grandes beneficiados deste novo esquema, podem ser Donny Van de Beek e Jesse Lingard. O holandês, pela qualidade de passe e de temporização de jogo, pode finalmente ganhar preponderância no United, no duplo pivot de Rangnick, especialmente se tiver um médio de choque ao seu lado, como Scott McTominay, que assegure a recuperação de bola (além de ser também uma opção a Bruno Fernandes, um pouco mais à frente). Já o inglês, pode ser uma excelente alternativa quer a Bruno Fernandes quer a Sancho, a jogar no meio, com a sua capacidade de descair na ala ou de aparecer em zonas de finalização.

Onde assistir o jogo do Manchester United x Manchester City hoje (06/11) – DCI

 

Histórias de Ralf Rangnick

-O treinador tem ideias fortes de como quer a sua equipa e não aceita ser deixado de parte das decisões. Tanto no Hoffenheim como no Schalke 04, o treinador despediu-se (apesar de estar a ter boas épocas) por não concordar com a política de transferências do clube. O técnico chegou a reunir-se com Marina Granovskaya (directora desportiva do Chelsea) para suceder a Frank Lampard, mas a falta de poder de decisão e o facto de o contrato proposto ser apenas de 4 meses, levou a que recusasse, “dando a vez” ao pupilo, Thomas Tuchel.

-O mesmo Thomas Tuchel tornou-se treinador graças a Ralf Rangnick. O actual treinador do Chelsea era jogador de Rangnick no Ulm, quando se lesionou com gravidade no joelho e terminou a carreira aos 25 anos. Ao descobrir que o seu ex-jogador estava a trabalhar num café, Rangnick mexeu uns cordelinhos e arranjou-lhe emprego como treinador dos Sub-15 do Estugarda… o resto é história.

-Ralf Rangnick não acredita em multas a jogadores com ordenados milionários e como tal tem uma “Roda da Sorte” para os castigos ao plantel. Sempre que um jogador falha no cumprimento das regras, tem de rodar a roda dos castigos, podendo ter sorte e ficar sem nenhum, ou apanhar alguns tão originais como oferecer presentes aos funcionários do clube, encher as garrafas de água de todos os jogadores ou treinar com um tutu de ballet.

 

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