Quem quer ser (treinador de um clube) milionário?

A Premier League, o El Dorado do futebol, onde os sonhos se tornam realidade, a melhor Liga do Mundo, com os melhores jogadores, os melhores adeptos, os melhores orçamentos e alguns dos piores treinadores.

Esta época, treinadores como Pep Guardiola, José Mourinho ou Carlo Ancelotti, todos vencedores da Liga dos Campeões, campeões nacionais em mais do que um campeonato e com mais do que uma década de experiência como treinadores, faziam parte do lote de treinadores, ao lado de nomes como o do já despedido Frank Lampard e dos misteriosamente ainda empregados, Ole Gunnar Solskjaer e Mikel Arteta.

Ser treinador de futebol tem três facetas essenciais, o conhecimento táctico, a capacidade de transmitir as ideias de jogo aos jogadores e a capacidade de gestão de egos. Quando uma das três falha, pode ter consequências devastadoras para um treinador e para uma equipa. Há depois outro factor incompreensivelmente importante, que tem sido determinante para alguns treinadores, o “ser da casa”.

Ole Gunnar Solskjaer jogou vários anos no Manchester United, marcando golos importantíssimos, incluindo um na final da Champions. Mikel Arteta jogou vários anos no Arsenal e… esteve lá muito tempo. Fez algumas coisas… nada digno de nota, mas fez com dedicação. Ambos são agora treinadores dos clubes que serviram como jogadores, usando o crédito que conquistaram junto dos adeptos para merecer a sua confiança no banco, no lugar de treinadores competentes.

Qualquer presidente sonha descobrir o novo Guardiola, debaixo de uma pedra, de entre as lendas do clube. Há, de facto, vários ex-jogadores com potencial para um lugar no banco, mas como tudo na vida à excepção da virgindade, exige experiência. Um ex-jogador de elite tem à partida uma grande vantagem de ter trabalhado com treinadores de elite e partilhado o balneário com os melhores, além de ter à partida uma maior abertura e tolerância da parte dos adeptos. Isso tem, no entanto, levado alguns treinadores como Mikel Arteta, Frank Lampard ou Andrea Pirlo (entre vários) a saltar etapas fundamentais no desenvolvimento de qualquer treinador, independentemente do seu potencial. Há, também,  Ole Gunnar Solskjaer, que depois de não impressionar em Cardiff e no Molde (apesar de ter conquistado dois títulos nacionais), está a não impressionar em Old Trafford, no comando de um dos plantéis mais caros da história do futebol.

O Manchester United de O.G. Solskjaer

Um dos melhores plantéis da Premier League, oscila entre exibições fracas e grandes jogos, dependendo da inspiração de jogadores como Marcus Rashford, Bruno Fernandes e Paul Pogba. Em campo, percebe-se a táctica, mas tem de se adivinhar a ideia de jogo. Solskjaer disse em conferência de imprensa que encoraja os jogadores a jogar a partir de trás e nota-se bem isso… estão encorajados e tentam, só não sabem como. Há uma intenção, não há uma rotina ou uma ideia concreta, seja de como construir a partir de trás, seja praticamente do que for no jogo do United.

Outrora uma muralha comandada com Ferdinand e Vidic, o centro da defesa do Manchester United confia numa sofrível parceria entre Harry Maguire e Victor Lindelof, muito desapoiada pelo meio-campo, quando não joga Scott McTominay. É unânime que é a principal fraqueza do United, mas não parece que haja uma tendência a melhorar ou uma ideia concreta do seu treinador para resolver o problema, que não, contratar outro central… até acertar em dois que sozinhos percebam o que têm a fazer.

O Manchester United está assente no talento individual dos seus jogadores, e da interpretação que parecem fazer das ideias de Solskjaer, graças à experiência e inteligência táctica. Cavani é exímio a desmarcar-se, Rashford e Greenwood a flectirem para o meio e Bruno Fernandes é um médio ofensivo como há poucos, juntos, com a inteligência táctica de Pogba conseguem causar estragos suficientes para serem segundo na Premier League… imaginem com um treinador.

 

O Arsenal de Mikel Arteta

O sonho molhado de um hipster de futebol, Mikel Arteta tem o impressionante currículo de ter sido adjunto de Pep Guardiola, logo, ”vai ser tão bom como ele.” Só que não…

Apesar de um início tremido, Arteta pareceu terminar a época passada num caminho prometedor, mas rapidamente esta época desenganou os optimistas. À inexperiência dos jogadores, como Saka, Smith-Rowe, Nketiah, etc, junta-se a falta de C.V. de um treinador que bebeu dessa fonte de conhecimento táctico que é Pep Guardiola e depois parece ter vomitado tudo o que o catalão tem de bom…

Arteta junta sem qualquer indício de mestria, vários conceitos, alguns deles sem grande nexo. Abdicando do controlo no centro do terreno, para explorar as alas, onde se encontram os seus melhores jogadores, Arteta espera aproveitar a velocidade de Saka e Aubameyang para chegar a zonas de finalização. O descongestionamento do meio, permite aos adversários muito mais tempo para construir e/ou destruir as intenções de ataque dos londrinos. O “buraco” no centro, dificulta a transição entre os dois lados, parecendo o Arsenal que faz um “all In” cada vez que escolhe uma das alas para atacar, tendo muitas dificuldades em fazer a bola regressar ao meio. A equipa faz muito passes, mas poucos objetivos, chegando muito poucas vezes com perigo a zonas de finalização.

Arteta já experimentou com a defesa a quatro e com a defesa a três, com duplo pivot ou com o trinco puro, com dois avançados ou com falso nove. Houve bons indícios e quando tem tempo de preparar os jogos, contra adversários mais fortes que tomam a iniciativa, Arteta consegue anular bem as principais forças do adversário, mas na hora de assumir o jogo, o Arsenal é com Arteta uma equipa previsível e sem qualquer indício de brilho, a não ser nos rasgos individuais de alguns jogadores.

Os adeptos, que há apenas 4 anos apresentavam tarjas de “WengerOut” e tratavam o seu velho treinador como se tivesse ficado senil e já não pudesse ir sozinho ao supermercado, porque não lhes chegava lutar por um lugar no top4, veem a sua equipa lutar agora com o recém-promovido Leeds United e um Aston Villa que a época passada ficou apenas um lugar acima da linha de água, por um lugar no top10. Enquanto isso, Unai Emery, escorraçado do clube, levanta a Liga Europa com o Villarreal.

No futebol, não há soluções milagrosas nem certezas. Escolher um treinador não é uma ciência exacta e há muitos pormenores a ter em conta, como se o seu estilo de jogo se adapta ao clube, aos jogadores, etc. Não deve ser uma decisão tomada de animo leve, não pode ser um tiro ao acaso. Há muito bom treinador no mercado, com experiência e ideias muito interessantes e Arteta, Lampard e Pirlo também o podem ser, num futuro próximo, mas para isso precisam de experiência e de fazer experiências, de perceber eles próprios a sua identidade enquanto treinador… no fundo precisam de tempo. Quanto a Solskjaer já teve esse tempo e raios o partam que não tem praticamente nada a favor dele!

 

 

 

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