Sérgio, não és tu… somos nós!
Fui dos maiores fãs do Sérgio enquanto jogador. Era das minhas primeiras contratações em qualquer FM ou FIFA. Era daqueles jogadores que me fazia seguir atentamente a Serie A e torcer pelo clube que representava, não só por ter sido formado no Porto, mas por aquele estilo lutador e irreverente que ainda hoje o caracteriza.
Foi um jogador à Porto. Tão bom como os melhores e só não está mais vezes “entre eles” por ter saído tão cedo e ter tido uma passagem tão efémera quando regressou. Mas está tudo lá, a mística, o amor à camisola e a raça com que sempre defendeu o seu clube. Foram dois anos e meio, em duas passagens que lhe valeram três campeonatos, uma taça e uma supertaça.
Voltou depois como treinador e confesso que, apesar de não ser a minha primeira escolha, preferia o Sérgio a grande parte dos nomes apontados, pois acreditava que ganhando ou não, seria capaz de trazer ao nosso clube o que lhe faltava há anos: a mística.
E foi! Foi um primeiro ano épico. Numa época que tinha tudo para ser uma catástrofe, sem contratações, só com “a prata da casa” (que apesar de ser não má, estava longe de ser brilhante) e com um Benfica dominador, que ia para o quinto título consecutivo, o Porto de Sérgio Conceição superou todas as expectativas e venceu.
Por essa vitória e por ter devolvido o que é ser Porto ao clube, foi um dos treinadores mais importantes da história recente do Futebol Clube do Porto e isso para mim é inquestionável. Voltei a ver jogadores com fome de vencer, de ir à bola com vontade, com garra… voltei a ver Porto nos jogadores.
Pena o futebol jogado nunca ter acompanhado a garra.
Ao longo de quatro anos, raramente vimos o Porto de Conceição a ser mandona, a controlar o jogo, a ser autoritária no último terço, especialmente naqueles jogos que é mesmo preciso ganhar. Sérgio Conceição não sabe ter a iniciativa do jogo e isso num campeonato como o nosso, sente-se.
Atenção, em quatro épocas este Porto foi campeão em duas e teve o melhor ataque em três. Nenhuma equipa venceu tanto em Portugal como o Futebol Clube do Porto desde que Conceição chegou e esse registo ninguém lhe tira. Lançou jogadores como Fábio Vieira, Vitinha, João Mário e Diogo Costa, que são hoje das maiores promessas do clube, e ainda reabilitou jogadores como Mbemba, Sérgio Oliveira e Marega, que não pareciam ter qualquer futuro no Dragão.
Sérgio recuperou o Porto dos anos 90, mas esse Porto já não é suficiente no futebol moderno. As equipas portuguesas já não jogam da mesma forma e são agora muito mais disciplinadas do que eram há 20 anos, muito mais eficazes a defender e mais difíceis de quebrar quando jogam em bloco baixo. Hoje em dia, apenas querer mais que os outros, não chega… é preciso ter cabeça e sangue-frio e é isso que tem faltado ao Futebol Clube do Porto.
A aposta cega no 4x4x2, seja qual for o grau de dificuldade dos jogos e a dificuldade em adaptar e ou reorganizar a equipa quando a tática falha. A insistência que só pode ser explicada por uma grande teimosia, em jogadores que não têm capacidade para representar o Futebol Clube do Porto. A ostracização de alguns jogadores e a velocidade com que os “atira para a fogueira” quando falha alguma coisa. São todos sinais que Sérgio Conceição não é o treinador com que o Futebol Clube do Porto pode dar o próximo passo.
Sérgio é o underdog perfeito. É o treinador que confortável na narrativa do “contra tudo e contra todos”, que brilha quando não tem o favoritismo e não precisa de ter a iniciativa de jogo. Mas o Porto não pode ser sempre o underdog. Como disse noutro artigo, Sérgio Conceição é um dos melhores treinadores da Europa durante a semana, quando não tem de assumir os jogos, o problema é aos fins-de-semana quando o tem de fazer. O Porto tem de voltar a ser o favorito e a comportar-se como tal.
É fácil criticar o treinador depois de uma derrota por 1-5. Mas pouco do que falo aqui vem em particular deste jogo. Sim, é impensável a insistência em Zaidu, que não jogava desde que foi substituído no último jogo da Liga dos Campeões por estar a fazer um jogo sofrível. É impensável voltar a apostar em Corona, quando João Mário tem revelado muito mais segurança e está muito mais rotinado. Em manter um Toni Martinez perdido na frente ou em passar uma semana inteira a dizer que vai esperar por Pepe até à hora do jogo, minando a confiança de Fábio Cardoso, que acabou por ser titular. Mas se escrevesse este artigo antes, o conteúdo seria muito semelhante.
Seja pela crise financeira do clube, seja por ter sido da casa, Conceição teve mais “paciência” dos adeptos e da direção que outros treinadores tiveram. Vítor Pereira foi campeão 2 vezes em 2 anos, em ambos os casos, quase imbatível. Jesualdo Ferreira anos antes, ganhou 3 campeonatos seguidos (único treinador da história do clube a conseguir esse feito) e saiu ao 4º ano, após perder o campeonato contra o Benfica de Jorge Jesus e nunca houve tanta paciência para as suas falhas como com Conceição.
Sérgio Conceição foi importantíssimo para o Futebol Clube do Porto e por isso será sempre acarinhado pelos adeptos no Dragão, mas levou-o até ao limite da sua capacidade enquanto treinador. Está na altura de passar o testemunho.
Se o futuro sem ele será melhor? Não sei. Nem acho que sair agora a meio da época seja benéfico ou o fim que merece ter, alguém que deu tanto ao clube como ele. Até que o faça continuarei a torcer pelo seu sucesso no Porto e a esperar que me prove que estou errado nas críticas que lhe faço. Depois de sair, continuarei a torcer pelo seu sucesso, para onde quer que vá.
Sérgio devolveu-nos o Porto dos anos 90… agora queremos o Porto dos anos 2000 (vá, não o dos primeiros 2 anos). Queremos voltar ao 4x3x3, aos jogos à Porto, dominadores e com soluções. Quiçá até ao 3x4x3 kamikaze de Adriaanse. Queremos voltar a vibrar pelo Porto. Não queremos começar a defender depois do 1-0, queremos ir para cima e marcar o 2 e o 3-0.
Temos jogadores para isso e sobretudo… temos clube para isso. Em grande parte, graças ao Sérgio.