So far, so good… mas cuidado com as aparências

Esta pausa nas competições de clubes para os compromissos das seleções é o pretexto ideal para um primeiro balanço sobre o início de época 2021/22. A janela de transferências está, grosso modo, encerrada; o calendário começa a entrar em fase de cruzeiro; as fases de grupos das competições europeias estão a uma semana de se iniciarem e o número de jogos disputados por cada equipa constitui já uma amostra interessante para se poderem tirar as primeiras conclusões. Ensaiemos então um primeiro olhar sobre o arranque de temporada do Sport Lisboa e Benfica.

PSV Benfica Imagens 2.ª Mão Play-off Champions - SL Benfica

Não há volta a dar, toda e qualquer análise a efetuar neste momento teria que estar umbilicalmente ligada ao primeiro grande objetivo da temporada: o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Consegui-lo representaria um sucesso desportivo (apesar do fracasso que levou a que o apuramento direto não tivesse sido alcançado, mesmo após o maior investimento de sempre em Portugal), um desafogo financeiro que mitigaria uma eventual necessidade de vender jogadores no final do mercado e, por fim, reduziria drasticamente a pressão sobre a equipa técnica e os jogadores. Falhá-lo seria um desastre de consequências imprevisíveis, pois a todos os fatores anteriormente mencionados somar-se-ia ainda o reforço da contestação sobre a Direção (demissionária) do Clube.

Intervalados com os potenciais 4 jogos que separavam o Benfica da Champions League estavam outros tantos desafios da Liga Portugal bwin, nos quais a equipa pretenderia naturalmente somar 12 pontos, até atendendo ao baixo grau de dificuldade que teoricamente apresentavam. Porém, cedo se percebeu que, compreensivelmente, a prioridade eram os milhões do prémio de entrada na prova de clubes mais importante da UEFA, pelo que um eventual deslize comprometedor no campeonato nacional, resultante da utilização de uma equipa enfraquecida, era um sacrifício que Jorge Jesus estaria disposto a fazer.

 

Passeio em Moscovo + sofrimento em Eindhoven = Champions League

O caminho para a Liga dos Campeões começou por colocar o Benfica frente ao Spartak e desde muito cedo no desafio de Moscovo se percebeu que a equipa russa era muito inferior à equipa portuguesa. Pode recordar esse jogo aqui.

As águias trouxeram a eliminatória praticamente resolvida da Rússia e a 2ª mão apenas serviu para confirmar a sua superioridade. Até porque Rui Vitória abdicou completamente de discutir o jogo de igual para igual, chegando até a adotar uma insólita linha defensiva de 6 jogadores em organização defensiva, quando os seus extremos se posicionavam em linha com os 4 defesas, por fora dos laterais, para conter Diogo Gonçalves e Grimaldo. Em suma, um jogo – e uma eliminatória – sem grande história.

Seguiu-se o PSV, um osso bem mais duro de roer.

Na Luz, o Benfica marcou cedo, mas foi completamente dominado a partir desse golo. A pressão alta dos neerlandeses obrigou os centrais do Benfica a baterem longo de forma sistemática; Weigl e João Mário raramente conseguiram ter bola e foram abafados pelo trio Sangaré, van Ginkel e Götze; Madueke fez o que quis de Grimaldo na 1ª parte (mas raramente definiu bem os lances). O 2-1 final foi bastante lisonjeiro para o Benfica, que deve essa vitória a Vlachodimos, por muito que Jorge Jesus o tenha tentado negar no final da partida.

Benfica-PSV | UEFA Champions League | UEFA.com

Com a abolição da “regra dos golos fora”, a vantagem levada para os Países Baixos tornava-se ainda mais preciosa, já que diminuía o potencial impacto de um golo sofrido caso o PSV se adiantasse no marcador. Jorge Jesus tirou ilações da 1ª mão: abdicou de um avançado (Pizzi) para lançar mais um médio (Taarabt), transformando o habitual 3-4-3 num 3-5-2. Ofensivamente a equipa ficou ainda mais dependente das arrancadas de Rafa, mas a igualdade numérica no centro do terreno, aliada à instrução para os 3 médios-centro pressionarem individualmente a campo inteiro o seu adversário direto, bloqueou a construção dos visitados. A estratégia estava a resultar e o Benfica ia controlando o jogo sem passar por grandes apertos até que, pouco depois da meia hora, Lucas Veríssimo foi expulso. Jorge Jesus resistiu à tentação de mexer imediatamente na equipa, jogando também com a necessidade de retardar ao máximo a entrada de Vertonghen (que regressava após lesão), mas a equipa passou por momentos de aperto até ao intervalo (ficou na retina uma enorme “mancha” de Vlachodimos perante Madueke). O treinador amadorense aproveitou o descanso para repor a linha de 5 defesas que se desfizera com a expulsão, primeiro adaptando Gilberto a central e lançando finalmente o experiente belga 10 minutos volvidos. Apesar do sofrimento inerente à importância do desafio e à desvantagem numérica, a equipa manteve-se bastante concentrada e não concedeu muitas oportunidades de golo ao PSV. O defensivamente permeável Grimaldo, desta vez, anulou Madueke (levando até Roger Schmidt a substituí-lo aos 70 minutos); Weigl “varreu” o meio-campo na 2ª parte; Otamendi esteve absolutamente imperial e Vlachodimos voltou a estar em plano de destaque, ainda que com menos trabalho do que no jogo da Luz. A maior oportunidade do PSV acabou por nascer de um erro de Morato, mas Zahavi atirou à barra, num desperdício que fez lembrar “aquele” célebre lance de Bryan Ruiz. O Benfica segurou o nulo e conseguiu o tão desejado apuramento para a fase de grupos da Champions League. No cômputo dos dois desafios, também por força das circunstâncias que foram ocorrendo, o PSV esteve mais tempo por cima do adversário, mas no futebol os resultados são soberanos.

PSV Eindhoven 0 x 0 Benfica: Com um a menos, time de Jorge Jesus segura pressão e vai à fase de grupos da Champions | Goal.com

A linha entre o sucesso e o fracasso foi bastante ténue, quiçá do tamanho da barra de uma baliza, mas a balança pendeu para o lado do Benfica. Os milhões foram garantidos e o clube da Luz tem agora à sua espera Bayern, Barcelona e Dínamo de Kiev.

Os confrontos com o PSV deixaram a sensação de que esta equipa ainda está longe de poder corresponder às exigências de uma participação afirmativa na Liga dos Campeões, mas por outro lado o sorteio de um grupo com dois gigantes do futebol europeu – não nos iludamos com a saída de Messi, o Barcelona ainda está anos-luz à frente do Benfica – retira pressão e leva a que a mira esteja realisticamente apontada ao 3º lugar.

 

Campeonato: gerir e ganhar, sem deslumbrar (e com susto… e meio)

O Benfica abordou claramente os primeiros 4 jogos do campeonato com o lema: “chegar, rodar e ganhar”. Num total de 360 minutos possíveis, João Mário jogou 179 (dos quais 90 frente ao Tondela, por castigo de Taarabt), Grimaldo 116 (também 90 frente ao Tondela), Rafa 98 e Weigl 76. Lucas Veríssimo folgou contra o Arouca e Otamendi descansou frente ao Tondela. Estes 6 jogadores têm composto a espinha dorsal do Benfica 21/22, mas apenas no que toca aos confrontos europeus, porque para já pouco jogaram no campeonato, com exceção dos 2 centrais – e mesmo esses, por défice de alternativas, agravado pela lesão de Vertonghen.

Os encarnados entraram na liga a todo o gás em Moreira de Cónegos com 2 golos madrugadores. Um erro coletivo permitiu ao Moreirense reentrar no resultado e a expulsão de Diogo Gonçalves na fase inicial da 2ª parte podia ter complicado sobremaneira o desafio, mas o jogo esteve sempre controlado. A receção ao Arouca pela expulsão caricata e madrugadora do guarda-redes visitante e a história do jogo resumiu-se aos 2 golos marcados e ao festival de golos falhados.

À 3ª jornada surgiram as primeiras dificuldades, com uma deslocação a Barcelos entre o duplo confronto com o PSV. O Benfica jogou pouco mas criou ocasiões q.b. para vencer com justiça, apesar dos 2 golos terem surgido já na fase final do desafio (84 e 88).

Meio susto em Barcelos, um “susto inteiro” na Luz perante o Tondela, na “ressaca continental” do sofrimento em Eindhoven. Uma 1ª parte inenarrável obrigou Jorge Jesus a sacar 3 trunfos do seu baralho de suplentes ao intervalo (Gilberto, Weigl e Rafa em vez de André Almeida, Meïté e Pizzi), todos eles fundamentais na reviravolta operada nos últimos 20 minutos, consumada com um golo quase “caído do céu” do lateral-direito brasileiro.

https://www.youtube.com/watch?v=8lL7IVgs_r4

Desta contextualização resulta que estes primeiros desafios do campeonato não podem servir de barómetro para aquilo que a equipa poderá produzir na Liga Portugal bwin. Seja como for, com maior ou menor dificuldade, o objetivo primordial para estes desafios foi atingido e esses 12 pontos conferem às águias, no presente, a liderança isolada na antecâmara do Sporting – FC Porto, que poderá atrasar ainda mais pelo menos uma destas equipas face aos encarnados, que jogam nos Açores imediatamente antes do clássico.

 

A avaliação dos reforços

João Mário – 5/5. Muitos benfiquistas olhavam para esta contratação com alguma desconfiança, dada a ligação do médio ao Sporting. Objetivamente, João Mário veio reforçar aquela que era a maior lacuna do 11 inicial, impôs-se de imediato e assumiu a batuta: o jogo ofensivo do Benfica passa todo por ele. Sentiu dificuldades no duplo confronto com o PSV, mas foi o MVP da eliminatória contra o Spartak, teve ação relevante em golos marcados a Arouca e Tondela e a sua entrada revitalizou a equipa em Barcelos.

Yaremchuk – 4/5. Um perfeito desconhecido para o público português até então, mostrou o suficiente no Europeu ao serviço da seleção ucraniana para que os 17M€ investidos pelo Benfica em 75% do seu passe não causassem estranheza. Começou muito bem: participou num golo na estreia (vs Spartak na Luz), marcou e assistiu na estreia a titular (vs Arouca na Luz) e fez as assistências para os golos de Rafa e Weigl frente ao PSV. Perdeu gás na deslocação a Barcelos e passou ao lado do jogo em Eindhoven. Avançado de remate fácil, muito possante e veloz q.b. para um jogador com 1,91m de altura, ainda não convenceu totalmente no capítulo técnico, especialmente no que concerne ao primeiro toque. Necessita de maior entendimento com os novos colegas para que se possa aferir da qualidade do seu posicionamento e das suas movimentações sem bola. Neste momento não se pode dizer que ofereça mais à equipa do que Gonçalo Ramos, pelo que no imediato não justifica nota máxima.

Benfica Yaremchuk Spartak Declarações Futebol - SL Benfica

Rodrigo Pinho – 3/5. Contratado a custo zero ao Marítimo, aos 30 anos e com contrato de 5 épocas?! Um cartão de visita destes gera natural desconfiança. Com tanta concorrência (“cara” e com muito mais estatuto), foi passando despercebido ao longo da pré-época e viu a sua afirmação prejudicada por uma lesão que o impediu de estar presente nos primeiros desafios. Foi, algo surpreendentemente, lançado por Jorge Jesus frente ao Tondela, como “arma secreta” e revelou bons pormenores, contribuindo para a remontada. Com a saída de Waldschmidt, parece ser o avançado do plantel com mais capacidade para jogar entrelinhas, talvez até o único. Pode vir a tornar-se uma agradável surpresa. No mínimo, é intrigante. A rever.

Meïté – 2/5. Esperava-se que viesse acrescentar uma dimensão física ao meio-campo do Benfica, atributo que Weigl e João Mário de todo não possuem. Está no início da sua carreira no clube, mas tem vindo a demonstrar uma “moleza” preocupante. Vinha de paragem prolongada quando chegou, mas isso não é justificação para falta de atitude competitiva ou da proverbial “intensidade”. Fica o benefício da dúvida por enquanto, mas, com 5 anos de contrato pela frente, poderemos vir a estar na presença de “outro Gabriel” no verão de 2022 ou 2023?

Gil Dias – 1/5. Extremo mediano que rapidamente se percebeu que fora contratado para ser alternativa a Grimaldo. Poderá Jorge Jesus ter pensado em replicar a adaptação de César Peixoto? Na Liga dos Campeões disputou apenas os últimos minutos em Moscovo, entrando com o jogo já resolvido. No campeonato foi titular nas 3 primeiras partidas, sem se evidenciar e já nem sequer foi chamado para o desafio com o Tondela (apesar de Jorge Jesus ter promovido várias alterações na equipa titular para esse jogo, que se seguiu ao de Eindhoven). Para cúmulo, “saiu-lhe a fava” na inscrição do plantel para a fase de grupos da Champions League: era preciso deixar um jogador de fora e foi ele o preterido, deixando Grimaldo sem substituto direto. Bom, na verdade, Gil Dias também não o é.

Radonjic e Lazaro – N/A. Ainda não tiveram oportunidade de jogar, pelo que é impossível fazer sequer uma avaliação preliminar. O sérvio já foi suplente não utilizado frente ao Tondela; enquanto o austríaco foi contratado já depois desse jogo.

Radonjic tem características diferentes dos restantes extremos do plantel, destacando-se sobretudo pela forma como utiliza a sua velocidade para explorar a profundidade (Rafa é igualmente veloz mas prefere progredir com bola; Everton prefere desequilibrar no 1×1 e Pizzi acaba por ser um falso extremo, que parte da direita para procurar terrenos interiores e combinações curtas). Será curioso perceber qual o contributo que o sérvio poderá efetivamente dar à equipa, já que não irá dispor do espaço que as suas características pedem, na grande maioria dos jogos.

Lazaro deverá assumir o flanco direito com alguma naturalidade, uma vez que é um jogador talhado para fazer todo o corredor direito num esquema tático de 3 centrais. Veloz, potente e com boa capacidade de drible, tem uma projeção ofensiva incomparavelmente superior a Gilberto e André Almeida e é neste momento um jogador mais completo e experimentado do que Diogo Gonçalves.

 

O próximo ciclo competitivo

11/9 vs Santa Clara (fora)

14/9 vs Dínamo de Kiev (fora)

20/9 vs Boavista (casa)

25/9 vs Vitória de Guimarães (fora)

29/9 vs Barcelona (casa)

3/10 vs Portimonense (casa)

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