Tragam de volta os anos 90

Foi a década em que comecei a ver futebol e, talvez pela inocência infantil ou por um certo saudosismo que pinta de várias cores algumas memórias mais cinzentas, é a década de que sinto mais falta. Era um futebol mais simples, não necessariamente melhor, mas com mais espírito, mais uma coisa do povo e não só do dinheiro. Não podemos lá voltar, a não ser por memórias e imagens cheias de grão. Mas há tanta coisa que podíamos trazer de volta…

Tragam de volta o Salgueiros e o Campomaiorense, o Estrela da Amadora, o Leiria, o Beira Mar e o Farense. Tragam de volta o futebol que corria o país todo e que enchia estádios, não só para os grandes. Tragam de volta o futebol de Domingo à tarde, quando a televisão não mandava mais que os adeptos.

Jogos Imortais: Beira-Mar 1-0 Campomaiorense – 1998/1999 – Conversas Redondas

Tragam de volta a festa da taça, quando realmente era uma festa.

Tragam de volta os estádios míticos e as suas histórias, como as Antas e a velhinha Luz, como o São Luis cheio e claustrofóbico, intimidante para quem fosse a Faro ou um Vidal Pinheiro que hoje não é mais do que uma ruína.

Tragam de volta os craques das equipas pequenas, alguns internacionais pelos seus países e com muito futebol nos pés. Tragam de volta nomes como Chiquinho Conde, Hassan Nader, Mladen Karoglan ou Rashidi Yekini, Filgueira, Marco Aurélio ou Jimmy Floyd Hasselbaink, que mesmo passando pelos grandes, foi nos pequenos que se tornaram lendas da primeira divisão.

Tragam de volta os craques de leste, como Yuran, Kulkov, Balakov, Kostadinov, Iordanov, Timofte, Miroslav Zidnyak, Poborsky, Zahovic ou Mostovoi. Tragam de volta esse senhor do futebol que era Bobby Robson. Tragam de volta craques como Michel Preud’Homme, Mário Jardel, Carlos Gamarra, Artur ou Edmilson.

Kulkov em 2018: ″Dizer que a minha passagem pelo FC Porto foi muito boa é pouco″

Tragam de volta o Boavistão, o clube das camisolas esquisitas, que lutava por lugares europeus e mais tarde até por um título. Tragam de volta o dérbi do Porto no seu expoente máximo e a termos quatro candidatos ao título.

Tragam de volta os patrocinadores como a Parmalat, a Revigrès, a Fnac, a Água do Caramulo e a Feira Nova. Algo que não seja telecomunicações ou companhias aéreas, que tornam as camisolas todas iguais. Algo com personalidade e que faça camisolas das quais nos lembremos 20 ou 30 anos mais tarde. Por falar nisso, tragam de volta as camisolas três tamanhos acima!

Expresso | 30 anos, 11 patrocinadores, 24 títulos. História visual das camisolas do Benfica

Tragam de volta as transferências antes do Youtube, quando não nos chegavam vinte compilações de fintas e golos dos novos jogadores do clube e tínhamos realmente de o ver jogar, para saber se era craque.

Mas as mudanças não ficam por aqui! Mudemos também lá fora…

Tragam de volta uma época em que não era só o dinheiro que contava para se ter uma boa equipa.

Tragam de volta a Série A recheada de estrelas, como Giuseppe Signori, Marco Van Basten, Roberto Baggio, Ronaldo, Gabriel Batistuta, Rudd Gullit ou Gianfranco Zola. O Milan de Arrigo Sacchi, a Juventus de Marcelo Lippi, o Parma de Carlo Ancelotti ou a Lázio de Sven-Goran Eriksson.

Só as lesões pararam Marco van Basten, o inesquecível craque do Milan - Calciopédia

Tragam de volta a Premier League e o Blackburn campeão, os golos de Shearer, a dupla Andy Cole – Dwight Yorke, a irreverência de Eric Cantona e a magia de Matt Le Tissier. Tragam de volta o Gianluca Vialli a treinador-jogador e os frangos de Massimo Taibi.

Tragam de volta o Dinamo de Kiev de Lobanovskyi, com Shevchenko e Rebrov, o Ajax de Van Gaal, com Kluivert, Seedorf e tantos outros. Tragam de volta a possibilidade de um clube não inglês, espanhol ou o Bayern ir longe na Europa e até fazer uma gracinha.

Tragam de volta os penteados de Taribo West, os livres de José Luis Chilavert e as defesas loucas de René Higuita. A camisola 1+8 de Iván Zamorano no Inter, quando soube que não ia ficar com o 9 no Inter e o pontapé canhão de Roberto Carlos, com efeitos que ainda hoje não dá para explicar.

Iván Zamorano revela os bastidores do "1+8" - MKT Esportivo

Tragam de volta as seleções da Dinamarca 92’, da Bulgária 94’ ou da Croácia 98’. Tragam todo o Mundial 94 de volta, desde a camisola do guarda-redes da Suécia aos cinco golos de Salenko, de Roger Milla a Bebeto e Romário.

Tragam de volta os anúncios da Nike que nos faziam passar semanas a tentar dar aquele toque ou fazer aquela finta.

 

Tragam tudo de volta… menos o filho da mãe do Marc Batta! Esse pode lá ficar!

Comentários
Loading...