Euro 2020: a análise ao grupo D

Não fosse o Grupo F ter aqueles que provavelmente são os três principais candidatos ao título e este seria um dos grupos mais equilibrados do Euro. Ainda assim, não deixa de ser um dos que vai ser mais interessante observar, com a Inglaterra a viver uma das suas melhores gerações, a Croácia a fechar o ciclo da sua segunda geração de ouro, uma Républica Checa que é sempre um osso duro de roer e a Escócia que volta às grandes competições de seleções, onde não participava desde o Mundial de 98!

 

Inglaterra

Que geração esta dos ingleses! Com os não convocados era possível criar uma seleção capaz de atingir os quartos de final desta prova sem dificuldade, tal foi a dor de cabeça de Gareth Southgate para escolher os 26.

Apesar do 3x4x3 lhe ter trazido várias alegrias no último Mundial, Gareth Southgate parece estar mais inclinado para um 4x3x3 no Euro. Na baliza, Henderson e Pickford disputarão a vaga, escudados por uma defesa onde deverão figurar Kyle Walker e Luke Shaw nas alas e a dupla Maguire – Stone no meio (dois do Manchester City, dois do United…). No meio-campo, Southgate deverá optar pelo duplo pivot Rice – Phillips nos jogos mais complicados, com Mount na frente, com Phill Foden e Jack Grealish a disputar um lugar no onze. Para o trio de ataque, apenas Kane tem lugar assegurado na frente, estando os dois lugares nas alas em disputa por Rashford, Jadon Sancho, Raheem Sterling e Bukayo Saka.

Com tantas opões esta seleção inglesa é um dos principais candidatos ao título e ainda para mais, jogando várias vezes em Wembley (que será o palco da final), promete fazer o cantigo “It’s coming home” muito frequente durante a prova.

Jogador em destaque: Harry Kane

Estrela maior de um Tottenham alérgico a títulos, Harry Kane teve uma época impressionante ao serviço dos Spurs, liderando as tabelas de golos (23) e de assistências (14) da Premier League, estando envolvido directamente num total de 37 golos esta época, 54% do total da equipa! Com 27 anos e vários boatos que está a forçar uma transferência este Verão, Kane tem neste Europeu a oportunidade de se firmar como um dos melhores pontas-de-lança do Mundo.

 

Croácia

Depois de Suker, Boban, Boksic e Prosinecki terem assegurado um 3º lugar no França 98, poucos esperavam que uma nação que apenas se tornou soberana em 1991 e tem uma população pouco superior a 4 milhões voltasse a figurar no topo do futebol Mundial. 20 anos depois, a segunda geração de ouro da Croácia, com Modric, Mandzukic e Kovacic à cabeça, chegava à final de um Mundial, perdendo apenas para a mesma equipa que em 98 os afastou da final…a França (pessoal da Croácia… vivemos praticamente o mesmo com eles em 84 e em 2000… à terceira é de vez! É arranjar um avançado mal amado, metê-lo no fim do jogo e deixá-lo chutar do meio da rua… connosco funcionou!).

Zlatko Dalic comanda uma seleção em transição, com jogadores instrumentais na campanha de 2018, como Luka Modric, Demagoj Vida, Dejan Lovren e Ivan Perisic a disputarem provavelmente o seu último Europeu, mas com várias garantias a médio (Kovacic, Brozovic, Kramaric e Rebic) e a longo prazo (Brekalo, Vlasic, Gvardiol e Livakovic).

Adepto do 4x3x3, Dalic deverá alinhar com Livakovic na baliza, uma linha de quatro composta por Barisic, Caleta-Car, Vida e Vrsaljko, um meio-campo com os obrigatórios Modric, Kovacic e Brozovic e um trio de avançados composto por Rebic, Kramaric e Petkovic. Um plantel que sem ser de luxo, não fica a perder para a seleção que em 2018 ganhou por 3-0 à Argentina, eliminou a Inglaterra e só foi parada na final.

Jogador em destaque: Luka Modric

Sim, é um cliché! Há 3 ou 4 jogadores que pensei destacar na Croácia, mas a verdade é que aos 35 anos, Luka Modric continua a ser titular indiscutível no Real Madrid e tem neste Europeu a sua última oportunidade de juntar a um armário com quatro ligas dos campeões, duas ligas espanholas e quatro mundiais de clubes, um troféu de seleções.

 

Républica Checa

Tal como a Croácia, a Républica Checa teve a sua primeira geração de ouro no final da década de 90… a diferença é que a segunda geração de ouro checa ainda não chegou. Não deixa de ser no entanto um adversário a respeitar.

O selecionador é Jaroslav Silhavy, campeão checo com o Slovan Liberec e o Slávia de Praga e um potencial para trocadilhos tremendo, com a expressão francesa “C’est la vie”! Silhavy (agora não conseguem não ler com sotaque francês, pois não?) joga habitualmente num 4x3x3, com Pavlenka e Vaclik a disputarem o lugar na baliza. A defesa pouco impressiona, sendo o lateral direito Coufal do West Ham a estrela maior do sector recuado. O meio-campo já conta outra história, com Soucek e Kral a formarem um duplo pivôt, com Vladimir Darida a fazer a transição defesa- ataque. Na frente, Patrick Schick é o homem mais avançado. Não tendo muito golo, o ponta-de-lança joga muito bem de costas para a baliza, criando muitas vezes oportunidades para os extremos (Masopust e Jankto) surgirem e causarem desequilíbrios.

A falta de golos é, provavelmente, será, provavelmente, a principal dificuldade desta seleção checa, que num grupo com dois adversários de peso precisará de fazer todas as oportunidades contar.

Jogador em destaque: Tomas Soucek

Que época esta de Tomas Soucek no West Ham. O médio defensivo mostrou ter uma veia goleadora invulgar na sua posição (10 golos na Premier league e em Março fez um hattrick pela seleção frente à Estónia), sendo um exímio cabeceador e muito perigoso nas chegadas tardias à área. Além disso, é uma presença dominante no meio-campo e um destruidor de jogo como há poucos.

 

Escócia

Afastados das grandes competições desde o Mundial de 1998, onde conquistaram apenas um ponto na fase de grupos, e dos Europeus desde 1996, os escoceses regressam à ribalta, prontos e logo no grupo da sua eterna rival, a Inglaterra.

Com o experiente Steve Clarke ao leme, a seleção escocesa chega ao Euro com 10 jogadores da Premier League, 5 do Celtic Glasgow e apenas 2 do campeão escocês, o Glasgow Rangers, sendo os principais ausentes Ryan Jack (Rangers) por lesão e Ryan Gauld, porque Clarke não vê a Liga NOS.

Espera-se que a Escócia alinhe num 4x3x3, apresentando um meio-campo com várias opções interessantes, incluído Callum McGregor, Ryan Christie e David Turnbull, Scott McTominay, John McGinn, Stuart Armstrong, John Fleck e Billy Gilmour (os três primeiros do Celtic e os outros quatro de clubes da Premier League). Na frente, a velocidade de Ryan Fraser e James Forrest (dois mísseis) a juntar à mobilidade de Che Adams, pode causar estragos nas defesas contrárias. Há muito potencial, nesta Escócia, que tem uma das mais interessantes gerações das últimas décadas, podendo tornar-se uma das surpresas deste torneio apesar do grupo difícil que têm pela frente.

Jogador em destaque: Andy Robertson

Em 2013, Andy Robertson jogava num clube amador escocês e trabalhava em part-time num call-center. Em 2019 levantava a taça da Liga dos Campeões e no ano seguinte a da Premier League, ao serviço do Liverpool. Um verdadeiro conto de fadas do lateral explosivo que foi instrumental no desenho táctico de Jurgen Klopp e chega ao Euro como a estrela maior da Escócia.

 

 

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