Então mas o David Moyes não era… ?… mas… então?

Foi um jogador banal e o mundo do futebol dificilmente teria dado por David Moyes, não fosse o seu incrível início de carreira como treinador em 1998, quando assume o comando do Preston North End (onde estava como jogador), sobe da terceira para a segunda divisão inglesa na segunda época e quase sobe à Premier League na segunda, perdendo na final do playoff… de repente o futebol inglês reparava em David Moyes e dois anos depois assinava pelo Everton.

Ao serviço dos Toffees, Moyes teve um percurso extraordinário, sendo o treinador que mais tempo esteve no clube (11 anos), conquistando a mais alta posição de sempre do clube na Premier League (4º lugar) e lançando/contratando jogadores como Wayne Rooney, Tim Cahill, Mikel Arteta ou Joleon Lescott. Moyes chegou cedo aos Toffees e, neste momento, nenhum dos treinadores dessa época continuam no activo… o jovem treinador “sobreviveu” a todos eles… de Ferguson a Wenger! Da época em que terminou em 4º lugar (2004/05) apenas José Mourinho e Rafa Benitez continuam a trabalhar!

Seguiu-se o Manchester United, para onde foi recomendado pelo próprio Alex Ferguson com a terrível missão de fazer esquecer aquele que provavelmente foi o tipo mais importante da história do clube… o próprio Alex Ferguson. 26 anos ao serviço do clube, onde conquistou 38 títulos, incluindo 13 premier Leagues, 2 Ligas dos Campeões e 5 taças de Inglaterra… nada de especial!

Substituir Alex Ferguson não era uma tarefa fácil, não só pelo “monstro” que foi ao serviço do clube, mas também pelo plantel que herdou. Sim, tinha uma das melhores duplas de ataque do Mundo, em Rooney e Van Persie, mas para os servir tinha um Ryan Giggs com 39 anos, Nani e Kagawa que nunca se adaptou ao futebol inglês… a nível defensivo, tinha Rio Ferdinand (34 anos), Nemanja Vidic (31) e Patrice Evra (32) a formar um quarteto defensivo com o inexperiente Rafael (22). Moyes pediu várias vezes um médio centro e foram várias as opções faladas, mas acabou por receber a sua 7ª ou 8ª escolha, Marrouane Fellaini (que tinha treinado no Everton).

Assinou um contrato de 6 anos, porque a direção entendeu que era a pessoa certa para suceder a Fergie e reconstruir o clube… durou 8 meses e foi corrido do tal projecto a longo prazo, por não ter tido sucesso a curto, com um plantel construído por outro treinador…

Segue-se a Real Sociedad, onde não faz história e de onde é despedido um dia antes de completar um ano no clube (9 de Novembro). Na época seguinte é contratado para salvar um Sunderland condenado à descida e onde fica no leme até esta estar consumada, qual capitão de um Titanic.

Três catástrofes depois, Moyes chega ao West Ham (2017/18), por apenas 6 meses, salvando o clube da despromoção, mas ainda assim, não recebe uma proposta para renovar. Regressa ao clube um ano e meio depois, após o despedimento de Manuel Pellegrini (o treinador que todos acreditavam que ia levar o clube à Liga dos Campeões) a um ponto da despromoção. Moyes pegou no clube e, com tempo, levou-o do fundo da tabela à luta pela Liga dos Campeões. Com jogadores olhados e considerados flops pelos adeptos, como Ogbonna, Pablo Fornal ou Cresswell,

Moyes criou uma equipa coesa e perigosíssima, estando neste momento a competir pelos lugares de acesso à liga dos campões, no terceiro lugar, após 11 jornadas onde perdeu apenas por duas vezes, apesar de ter enfrentado já o Manchester United, o Liverpool e o Tottenham. O West Ham tem também o terceiro melhor ataque, sendo a sexta equipa com mais remates da Liga e a oitava melhor defesa. Tendo em conta o plantel e o investimento do West Ham são resultados muito impressionantes.

Tal como fez com o Everton, David Moyes transformou uma equipa que luta para não descer, por uma equipa que luta pelos quatro primeiros lugares (e o acesso à Liga dos Campeões). Pelo segundo ano consecutivo, os Hammers estão na luta e mesmo com algumas deficiências no plantel, mantêm-se competitivos e a surpreender jornada após jornada.

Mesmo não tendo tido sucesso no Verão a contratar a título definitivo Jesse Lingard, que tinha sido instrumental no sucesso do clube a época passada, após empréstimo do Manchester United, mesmo não tendo sucesso na contratação de um avançado e em reforçar a defesa, este West Ham está muitos furos acima do que o esperado no papel. Para ajudar a por o feito de Moyes, o Leicester campeão em 15/16 nesta fase da época não tinha tantos pontos conquistados e apesar de dificilmente Moyes poder ambicionar fazer o mesmo milagre, não deixa de ser um feito estar onde está nesta fase.

David Moyes é um mau treinador? Não. Pelo contrário… foi um dos mais promissores treinadores do futebol Europeu, até que teve o azar de quando deu o passo para um grande, apanhar uma equipa fraturada com a saída do lendário treinador, uma direção que não ligou aos seus pedidos (afinal, tinham sido campeões na época anterior com aquele plantel) e adeptos impacientes. Os mesmos jogadores que davam a vida por Fergie, não conheciam David Moyes e a paciência que houve com o primeiro (a primeira temporada de Ferguson terminou com o United em 14º) não existiu com o segundo que nem sequer acabou a temporada. Moyes foi um treinador praticamente sem títulos a comandar homens que já tinham vencido tudo!

Moyes teve o “azar” de suceder a um dos maiores de sempre e encontrar adeptos e uma direção que acharam que o período de transição não iria existir. Moyes foi, como tantos, vítima do sucesso de Ferguson, tal como foram os dois treinadores seguintes o foram, apesar de serem treinadores de créditos firmados, vencedores de Ligas dos Campeões e com currículos invejáveis.

Moyes agora, continua a provar que é um treinador acima da média e o seu West Ham que custou menos de 100 milhões está à frente de um United que custou acima de um bilião, tendo transformado jogadores como Declan Rice ou Tomas Soucek em referências, disputados por vários grandes e provando a quem o achava acabado que sabe muito de futebol.