Liga NOS 2020/21: Uma época com contornos de película de Bollywood

Se há 10 anos alguém vos dissesse que o Sporting seria campeão com uma equipa de miúdos e um treinador de 10 milhões, o Benfica gastaria 100 milhões para ficar em terceiro, com um Jorge Jesus que anos antes enxovalhou o clube e a estrutura antes de sair para o Sporting, o Rio Ave só ia ser eliminado pelo Milan na Liga Europa por penalties e o Santa Clara se ia qualificar para as competições europeias, tudo isto, sem uma única pessoa nas bancadas a apoiar a sua equipa, iam achar que essa pessoa era, na melhor das hipóteses, uma besta!

2020/21 foi, no fundo, uma época com contornos de filme indiano, que vou tentar resumir o melhor possível já de seguida.

 

Sporting Clube de Portugal

A surpresa do campeonato e uma das maiores surpresas da Europa este ano, o Sporting de Rúben Amorim foi um justo campeão (e com isso talvez possa pedir equivalência para terminar o curso). Com uma aposta num 3x4x3 poucas vezes visto em Portugal (principalmente antes de Jorge Jesus a “inventar” em 95 com o Felgueiras), o Sporting teve na solidez defensiva a sua principal arma, numa equipa que juntava a irreverência da juventude de jogadores como Pote, Nuno Mendes ou Pedro Porro, com a experiência de Adán, Coates ou João Mário e a incastigabilidade de Palhinha.

É verdade que os leões tiveram do seu lado a famosa “estrelinha”, ganhando vários jogos nos últimos minutos, pela margem mínima, mas isso não apaga o excelente campeonato que fizeram e se é verdade que ganharam muitos jogos no fim é porque acreditaram até ao apito final.

Destacam-se pela positiva Pedro Gonçalves (o melhor marcador da equipa), Nuno Mendes, Pedro Porro e o capitão Sebastian Coates (um capitão como há muito o Sporting não tinha), com vários desgostos dados a portistas e benfiquistas no final dos encontros. Pela negativa o destaque terá de ir para Paulinho, contratado no mercado de Inverno por 16 milhões de euros e apesar de ter marcado o golo do título, esteve muito longe de compensar o valor investido (contratado para marcar golos, custou até agora 5 milhões por golo)

 

Futebol Clube do Porto

Seria sempre difícil terminar à frente deste Sporting, mas o Porto tem apenas a si próprio a culpar pela forma como desperdiçou pontos em alguns jogos. Com uma defesa anormalmente permeável (o pior registo da era Conceição) e a falta das bolas paradas e cruzamentos de Alex Telles, que na época anterior resolveram vários jogos, substituídas pelos cruzamentos de Zaidu para a bandeirola de canto, este Porto foi a prova que só coração não chega para ganhar campeonatos.

A falta de esclarecimento no ataque foi um dos principais castigadores do Porto (o que parece irónico, tendo o Porto o melhor ataque!), com Taremi e Marega entre os mais desperdiçadores da Liga, com o maliano a fazer o gosto ao pé apenas por 7 vezes, apesar do seu lugar cativo no 11 e no coração do técnico (só isto justifica!). O Porto marcou 3 ou mais golos em 11 jogos, mas em vários outros, não marcou ou fê-lo apenas por uma vez, perdendo pontos preciosos na perseguição ao Sporting.

Destaca-se o aparecimento de Francisco Conceição, Fábio Vieira e a boa época de Sérgio Oliveira, Otávio e Marchesin, com o esgotado Corona a ser muitas vezes um Oásis no deserto de ideias em que o ataque se tornava. O final de época trouxe a dupla Toni Martinez e Mehdi Taremi, que parece que se poderá vir a tornar um caso sério para o ano. Pela negativa, Zaidu, Marega e Luis Diaz tiveram uns furos abaixo do esperado, sendo a anunciada saída do maliano um alívio para os adeptos, que se for preciso o vão pessoalmente entregar à Arábia, para que tudo corra bem no negócio.

 

Sport Lisboa e Benfica

Após o maior investimento da história da Luz e a promessa de jogar o triplo pelo D. Sebastião Jorge Jesus, a época do Benfica prometia ser um passeio no parque pela liga e um estrondoso título Europeu. Do Brasil chegavam Everton (20M), Pedrinho (18M) e Gilberto (12€ e uma sandes de presunto), aos quais se juntava o 4º melhor marcador da 2ª divisão espanhola (Darwin Nuñez, por 24M). Cavani não chegou, apesar das “fontes seguras” garantirem que já tinha casa, mobilada e decorada em Lisboa…

Caso para dizer que pela boca morre o Jesus! Eliminados da liga Europa pelo PAOK, com um golo de um recém-dispensado pelos encarnados (Zivkovic), o Benfica virou-se para o campeonato… que terminou em terceiro lugar! Então virou-se para a taça, que ia ser a salvação da época… só que não foi, acabando por perder com o Braga.

Numa época em que os baixos foram mais frequentes que os altos, o Benfica transitou do típico 4x4x2 de Jorge Jesus para um 3x4x3, que permitiu soltar alguns jogadores como Everton e Diogo Gonçalves, melhorando o jogo de uma equipa que de boas indicações deixou muito pouco, apresentando várias lacunas graves na construção do plantel e no fio de jogo, praticamente inexistente da equipa.

 

Outros destaques positivos

Paços de Ferreira

Quando se esperava um Paços a lutar pela permanência, Pepa chega com uma equipa a lutar pela Europa. Foram 15 vitórias 8 empates e 11 derrotas em 34 jogos, um registo impressionante. A equipa da Capital do Móvel nem é estranha aos lugares Europeus, incluindo um terceiro lugar em 2012/13 com Paulo Fonseca, mas ainda assim, se no início da época dissessem que iriam acabar num lugar Europeu, várias sobrancelhas seriam erguidas.

Assente num meio-campo que aliava a qualidade de passe e a solidez defensiva, com Bruno Costa e Stephen Eustáquio (ambos a caminho do Porto, com Bruno Costa a dar uma volta por Portimão, num negócio que é mais difícil de perceber do que as análises ao jogo de Manuel Machado), Pepa construiu uma equipa sólida e solidária, compacta na hora de defender e com muito critério a atacar. É pena que as já anunciadas saídas da dupla de médios para o Porto e de Pepa para Guimarães, não permitam que este projecto tenha continuidade. Aguardamos para saber quem vai ser o próximo treinador a usar o boné da Capital do Móvel.

 

Santa Clara

Subiram há 3 anos e eram o principal candidato à descida, mas não quiseram alinhar nisso nessa época nem na seguinte. Este ano, com a mudança de treinador, também houve quem achasse que era desta, mas o Santa Clara de Daniel Ramos não se limitou a mostrar que é um caso sério… mostrou que é um dos projectos mais interessantes em Portugal. O 6º lugar dos insulares é o resultado de um incrível trabalho de gestão desportiva da direção do Santa Clara que com um dos orçamentos mais baixos da Liga construiu uma equipa muito competitiva, com talentos como Carlos Júnior (14 golos), Licoln e Fábio Cardoso, um dos melhores centrais do campeonato. Um dos projectos mais interessantes em Portugal neste momento…

 

Famalicão de Ivo Vieira

A 8 de Março, o Famalicão despedia Jorge Silas e apresentava minutos depois o seu terceiro treinador da época, Ivo Vieira. Depois de na época de estreia na Liga NOS falharem por pouco os lugares europeus, numa primeira época extraordinária, várias mexidas no onze ditaram um começo tremido e a saída do técnico João Pedro Sousa, substituído por Silas, que durou um mês e deixou a equipa em 16º lugar. Esperava-se de Ivo Vieira que afastasse a equipa da zona de despromoção, mas o técnico madeirense excedeu todas as expectativas e acabou a época a lutar por um lugar Europeu!

Apostando num 4x2x3x1, Ivo Vieira trouxe estabilidade tática e motivação a uma equipa que parecia acreditar em si própria. Seis vitórias, três empates e três derrotas, significam que este Famalicão conquistou 21 pontos em 36 possíveis (mais um ponto do que nos 22 jogos anteriores), galgando sete lugares na tabela, ficando a apenas seis pontos dos lugares europeus.

Destacam-se deste Famalicão a dupla de meio-campo Pêpê (chegado em Janeiro) e Manuel Ugarte e o extremo Ivo Rodrigues, que chegado no Mercado de Inverno, ainda foi a tempo de se tornar o jogador da equipa que esteve envolvido diretamente em mais golos (6 golos e 2 assistências). Destaque também para o médio espanhol Ivan Jaime, porque tem um nome épico!!! (além disso marcou 4 e assistiu 2… mas Ivan Jaime é… nem sei! Incrível!)

Pela negativa

Rio Ave

De eliminar o Besiktas e levar o Milan a penalties no inicio da época, numa pré-eliminatória da Liga Europa, a disputar um play-off de permanência com o Arouca! Que época esta, do Rio Ave, que esteve da 22ª à 34ª jornada sem ganhar, passando da luta pela Europa à luta pela permanência em dois meses.

De um plantel com jogadores como Gelson Dala, Carlos Mané e Fábio Coentrão (que nem ao final de carreira se consegue manter fiel!) esperava-se mais. Apesar de alguma solidez defensiva (só 6 equipas sofreram menos golos que o Rio Ave, incluindo os 4 primeiros classificados) o Rio Ave foi sofrível na frente, tendo o pior ataque da Liga (25 golos em 34 golos), tendo ficado em branco em 18 jogos esta época, mais de metade dos disputados!

Boavista

“O Boavistão está de volta” clamava-se no início da época, enquanto chegavam as lendas do FIFA Reggie Cannon, Alberth Elis e Angel Gomes, o ex-Benfica Javi Garcia e o internacional francês Adil Rami. O “Boavistão” esteve quase de volta… à segunda liga, com uma campanha sofrível. Angel Gomes mostrou ser frágil, Alberth Elis e Reggie Cannon correm que se fartam e ficam-se por aqui os elogios e os veteranos Javi Garcia e Adil Rami já tiveram melhores dias.

Fica para a história a vitória por 3-0 ao Benfica (a única vitória nas 15 primeiras jornadas!!!) e terem sido a equipa contra a qual o Sporting confirmou o título (e uma das únicas 3 equipas a quem Paulinho marcou um golo de verde e branco!

 

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