O árbitro que não expulsou Simeone, para a humilhação ser total

Estávamos a 5 de Novembro de 1993 e a Argentina recebia a Colômbia em Buenos Aires, na casa do River Plate, naquela que era a derradeira jornada de qualificação para o Mundial de 94 nos Estados Unidos.

Apesar da derrota em Bogotá na primeira volta, a seleção albiceleste estava confiante para este encontro, e porque não estaria, com jogadores como Fernando Redondo, Diego Simeone ou Gabriel Batistuta no onze titular? À entrada da jornada, a Colômbia dominava o grupo de qualificação com 8 pontos, a Argentina em segundo com 7 e o Paraguai em terceiro, com cinco. A Argentina precisava de vencer para ficar em primeiro e ter a certeza que, numa peripécia do destino, não era ultrapassada pelo Paraguai.

No dia do jogo o autocarro da Colômbia era recebido pelos argentinos com pedras e insultos, com o ponta-de-lança Asprilla a dirigir-se aos adeptos rivais e a dizer “por causa disto, logo vou marcar dois.”

Twenty-five years on: Argentina 0-5 Colombia, 1993 – the game that rocked the world... and embarrassed El Diego | FourFourTwo

O jogo até começou melhor para os argentinos, mas antes do intervalo já se havia percebido que não ia ser uma noite de sonho em Buenos Aires… pelo menos para os homens da casa. Com 0-1 no marcador, os colombianos entraram no balneário para o intervalo. De lá, saíram outros jogadores… Deuses do futebol, ou talvez Demónios, dependendo do lado de que estivéssemos a ver.

Com Maradona a assistir horrorizado na bancada, os colombianos marcaram não um, não dois, mas mais quatro golos, com Faustino Asprilla a cumprir a sua promessa e a bisar e ainda a assistir Valencia para o quinto, naquele que deve ter sido o mais ensurdecedor silêncio da história do Monumental.

Argentina-Colombia: The Night of Shame – Stories – Expanded – Long Form

Pouco depois do quinto, Diogo Simeone de cabeça perdida desfere uma violenta cotovelada à Paulinho Santos em Freddy Rincón, a quem chamou “niegro de mierda”. O que se seguiu, foi a toda a beleza do futebol sul-americano condensada em poucos segundos. Reza a lenda que o colombiano Gabriel Gomez correu para o árbitro pedindo-lhe que não expulsasse Simeone, para que os argentinos não usassem a desculpa de só terem perdido por estarem a jogar com menos um, ao que o juiz da partida, o uruguaio Ernesto Fillipi, terá respondido “não o expulso, mas têm de marcar mais um, a estes filhos da puta.”

Não marcaram, mas o 0-5 foi o suficiente para lançar o pânico na Argentina, com a revista El Gráfico a lançar uma capa no dia seguinte com a palavra “VERGUENZA” em maiúsculas e Diego Maradona a decidir voltar à seleção para evitar outro descalabro semelhante.

Colombia Vs Argentina: Las portadas después del 5-0 | RCN Radio

Para completar este quadro de miséria argentino, um avião quase chocou com o estádio durante o jogo (alguns argentinos teriam preferido), porque o piloto quis mostrar o estádio aos passageiros, num voo comercial, fazendo tremer o Monumental e todos os presentes que não ganharam para o susto.

El día que un avión casi choca con el Monumental

O Paraguai empatou no Peru, permitindo que ambas as seleções fossem ao Mundial. Diz-se que quando a sua equipa marcou o quinto golo, o selecionador Francisco Maturana terá dito “Ahora si que estamos hodidos”, sabendo da pressão que cairia sobre os seus jogadores para o Mundial de 94… e assim foi, com Pelé a apontá-los como os favoritos.

Provando que todos os neurónios do “Rei” ficaram no pé, a Colômbia desiludiu no Mundial, não passando na fase de grupos, numa desilusão que acabaria com o homicídio de Andrés Escobar, após um autogolo contra os Estados Unidos que ditou o afastamento da prova.

 

Apesar de não ter sido duradoura, foi imensa a glória dos colombianos, sendo um jogo ainda hoje recordado com saudade em toda a América do Sul, à excepção da Argentina, como o dia em que a arrogante albiceleste foi vergada em casa por uma Colômbia espectacular.

Argentina 0 x 5 Colômbia - O grande dia do futebol colombiano em 1993 ~ O Curioso do Futebol

Comentários
Loading...