O Tottenham de Conte

Rei morto rei posto no Norte de Londres.

Ainda há poucos meses, Daniel Levy, presidente do Tottenham, desculpava-se aos adeptos após o escândalo da Superliga e o despedimento de José Mourinho, admitindo que o clube tinha perdido o rumo, mas que voltaria a jogar o futebol de ataque que fazia parte do ADN do clube. Uns meses depois, Fábio Paratici, o director desportivo que sucedeu a Beppe Marotta na Juventus, foi contratado e depois de um turbulento verão, em que vários treinadores estiveram quase nos Spurs mas acabaram nunca chegar por um motivo ou outro, Nuno Espírito Santo, um dos treinadores menos ofensivos da Premier League, foi o escolhido.

Nuno names two Spurs players who are 'really sad' after international break - Spurs Web - Tottenham Hotspur Football News

O resultado foi o esperado! Nuno Espírito Santo não pôs o Tottenham a jogar futebol de ataque! Foi um sucesso? Não. Foi fracasso? Também não. Deixou o clube a cinco pontos dos lugares de acesso à Liga dos Campeões e a dois da Liga Europa, já tendo enfrentado quatro dos principais candidatos ao Top-6. Nuno nunca convenceu, até porque nunca teve uma hipótese real de o fazer. Os jogadores que (principalmente Harry Kane) se queixavam de falta de ambição, não ficaram impressionados com a escolha de um treinador que a época passada ficou fora do top-10 da Premier League e os adeptos também nunca pareceram convencidos, algo que Nuno nunca pareceu ter argumentos para contrariar.

Segue-se António Conte, vindo de ganhar uma Serie A com o Inter, terminando o domínio de uma década da Juventus, iniciado por si, e regressando a uma liga que já conquistou, ao serviço do Chelsea. Depois de ter recusado os londrinos no verão e de ser fortemente associado ao Manchester United, o italiano assume assim uma das pastas mais complicadas da Premier League e com a ingrata missão de fazer esquecer Pochettino, o treinador que fez os Spurs acreditar que era possível.

 

Como vai jogar o Tottenham? 

Espera-se que Conte continue a apostar na táctica que tanto sucesso lhe trouxe no Inter: o 3x5x2.

Simplificando: Três centrais, confortáveis com a bola nos pés, um deles com mais liberdade para subir. Um trio de meio campo com um playmaker recuado e dois médios, tanto capazes de se juntar ao ataque como de lutar pela bola no centro do terreno. Nas laterais, dois jogadores capazes de fazer o terreno todo, defendendo e subindo para criar desequilíbrios e situações de cruzamento para os dois avançados, um como referência e outro mais móvel, capaz de disputar as segundas bolas ou de aparecer nas costas dos defesas. No Tottenham deve alinhar com algo deste género:

 

Quem fica a ganhar?

Kane e Son

Toda a novela com Harry Kane, desligou-o da equipa e a escolha de Nuno Espírito Santo pareceu não ajudar nem com o inglês nem com o coreano, que joga agora mais afastado da frente do que com José Mourinho. Com Conte, o mais provável é que os dois voltem a formar uma dupla de ataque que tanto sucesso teve em épocas anteriores.

Kane and Son break single-season record with latest link-up in Spurs win

 

Ndombelé

Tanguy Ndombelé até hoje não mostrou o porquê de o Tottenham ter investido 60 milhões na sua contratação, com Pochettino, Mourinho e NES todos a não conseguirem tirar o melhor o francês. Com Conte, terá outra oportunidade e num meio campo a cinco, recuperando os 3 no eixo, o ex-Lyon pode ter a sua oportunidade de ouro de fazer o papel que Barella fazia com o técnico italiano no Inter, um oito, capaz de subir no terreno e ser um dos principais construtores da equipa.

 

Romero

Depois de ser o melhor central da Serie A num esquema a três centrais, Romero pouco jogou a dois centrais com Nuno Espírito Santo. Com a contratação de um treinador que joga a três centrais, tem a oportunidade de outo para conquistar de vez o seu lugar no 11.

 

Quem fica a perder?

Lucas Moura e Bergwijn

Dois extremos, num esquema sem extremos!

Lucas Moura já jogou a avançado, principalmente com Pochettino e até marcou um hattrick, mas mesmo que seja uma opção com Antonio Conte, dificilmente será titular em condições normais e se no Inter, Perisic se adaptou a posição de médio esquerdo pelo seu empenho em campo, nenhum dos dois parece ter o perfil para o fazer.

 

Bryan Gil

Pois é… outro extremo, não é? Este com a particularidade de ser magro, baixo e não particularmente rápido. Bryan Gil terá muita dificuldade em se impor com Antonio Conte, um treinador que gosta de alguma intensidade física nos seus jogadores, e muito dificilmente será uma opção regular do técnico italiano.

 

Dele Alli

De estrela emergente do futebol inglês, para alguém cujo única coisa recente digna de nota é namorar a filha de Guardiola.

Nunca foi fácil definir a posição de Dele Alli. Já foi 8, 10, falso nove e até extremo. Em todas elas, é um jogador incrivelmente dependente do que se passa à volta dele. Se a equipa joga bem, Dele Alli tem mais hipóteses de aparecer e de contribuir em zonas de perigo. Se a equipa não está bem, não é ele que a vai puxar para a frente. Dele Alli foi muito útil, numa equipa ofensiva com Pochettino, muito pouco relevante com equipas que cediam a iniciativa de jogo, como com Mourinho e NES. Com Conte, um jogador que não corre, não participa no processo defensivo e não tem uma função muito específica em campo, dificilmente terá uma hipótese!

Dele Alli vows to return fitter after 'most difficult' season at Spurs

Contratações:

Antonio Conte recusou os Spurs no Verão, por isso, houve decerto uma promessa de investimento por parte de Daniel Levy para convencer o técnico italiano. Olhando para o plantel dos Spurs, há muita matéria-prima para o Conte trabalhar, mas há também várias lacunas a preencher, principalmente a falta de opções no ataque, onde Harry Kane é o único avançado de raiz do plantel.

Dusan Vlahovic, da Fiorentina, é a opção mais falada, mas a forma do sérvio faz subir o seu valor a, praticamente, cada jornada da Serie A e fará com que apenas na eventualidade da saída de Kane ou Son, seja uma opção realista, tal como Lautaro Martinez (um reencontro com Conte) ou Domenic Calvert-Lewin, dois jogadores muito associados este Verão.

Andrea Belotti termina contrato no final da época e Janeiro é a última opção do Torino de ter algum retorno com a perda do seu capitão. O campeão europeu pela seleção italiana seria uma alternativa de luxo à dupla Son-kane e até uma boa opção para assumir o lugar, caso Kane saia.

With Mourinho in Tow, Roma's Pursuit of Andrea Belotti Could Intensify - Chiesa Di Totti

Outra posição a reforçar seria o meio-campo, onde (mantendo o tema dos jogadores em final de contrato) há várias opções que seriam decerto do agrado do técnico, como Frank Kessié (Milan), Denis Zakaria (Borussia Moenchengladbach) ou Marcelo Brozovic, um jogador que foi essencial para o sucesso de Conte no Inter.

Por último, o técnico quererá (provavelmente) um defesa central, uma vez que tirando Romero, nenhuma das atuais opções está ao nível do trio com que o italiano conquistou a Serie A (De Vrij, Bastoni e Skrinniar). Continuando nos jogadores em final de contrato (este ano há muitos!), há Alessio Romagnoli (Milan) ou Niklas Sule (Bayern Munich) como principais opções a ter em conta.

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