Stop the count! – North London is white

Quero começar este texto dizendo que em Inglaterra sou apoiante do Tottenham Hotspur, e que para um adepto dos Spurs não haverão muitas coisas melhores do que ver a nossa equipa em primeiro, e o velho rival Arsenal em último lugar na tabela classificativa da Premier League (PL).

Classificaçao atual da Premier League (1º Spurs; 20º Arsenal)

 

Ainda antes de Nuno Espírito Santo (NES) ter sido indicado para o cargo, tinha deixado uma série de críticas implícitas à forma como o clube vinha sendo gerido, com um defeso até então a roçar o ridículo.

Nessa altura, não havia ainda treinador e o plantel precisava de novas contratações – não de jogadores novos, mas sim de reforços para fortalecer o 11 inicial. Para além disso, a continuidade do melhor jogador da equipa parecia estar seriamente ameaçada. Foi nessa altura que Fabio Paratici, antigo diretor desportivo da Juventus, assumiu funções e, sempre de telemóvel na mão, começou a tentar arrumar a casa.

 

 

Da Atalanta chegaram Pierluigi Gollini, um guardião italiano que poderá ser o substituto do capitão Lloris no final desta época, data em que o francês termina contrato, e Cristian Romero, jovem central argentino, eleito o melhor defesa da última edição da Serie A e que bem recentemente fez parelha com Otamendi na vitória da Argentina na Copa América. De Sevilha chegou Bryan Gil, um extremo espanhol muito promissor, mas que parece ter ainda muito que crescer, sobretudo fisicamente. Em vésperas do fecho do mercado e via Barcelona (após passagem bem-sucedida pelo Bétis de Sevilha), chegou Emerson Royal, um lateral brasileiro capaz de dar profundidade ao flanco direito dos lilywhites. Mas o melhor “reforço” da temporada, parece ser mesmo Harry Kane, que após ter visto ser-lhe negada a saída para o Manchester City pelo presidente Daniel Levy, parece resignado a continuar a sua carreira no norte de Londres e juntamente com Son, carregar a sua equipa de sempre.

 

Daniel Levy levou a melhor da guerra de vontades com Harry Kane

 

Em termos de saídas, a tarefa de Paratici não era nada fácil e nesse campo muito ficou por fazer… Poucos jogadores do Tottenham saíram valorizados das duas últimas épocas desportivas e como tal a procura acabou por não ser muita. Saíram o experiente Alderweireld, que vinha caindo a pique em termos de desempenho, o (a todos os níveis) imprevisível Erik Lamela, envolvido no negócio de Bryan Gil, o francês Moussa Sissoko, um jogador que tem tanto de voluntarioso como de trapalhão e que fez uma curta viagem até Watford e o lendário Gareth Bale, cuja última passagem por North London foi uma sombra da primeira. Já não entravam nas contas Paulo Gazzaniga, Joe Hart e Danny Rose que terminaram contrato e abandonaram o clube com naturalidade. À hora a que escrevo este artigo, Serge Aurier negoceia o final do seu contrato com o clube e poderá desta forma assinar por qualquer clube, quando pretender. Por colocar/vender ficam Doherty (estranho que com Nuno, o treinador que o lançou na alta competição, não tenha tido reais oportunidades de voltar a brilhar), os centrocampistas Ndombélé e Winks e ainda o virtuoso esquerdino Ryan Sessegnon.

 

O português Nuno Espírito Santo apresentado como novo treinador dos Spurs

 

Após a chegada de NES, que esteve longe de ser uma primeira escolha, os adeptos ficaram desconfiados e na verdade, tinham motivos para tal. O treinador português fez um enorme trabalho no Wolverhampton, mas a equipa era mais conhecida pela sua fiabilidade defensiva do que pela espetacularidade ofensiva e isso chocava com o que Daniel Levy e os adeptos pretendiam. Deu para perceber que mais do que por amor, se tratou de um casamento por conveniência e agora Nuno teria a difícil tarefa de transformar essa confiança em amor.

E na verdade, contra quase todas as expetativas menos otimistas, o luso conseguiu… três jogos no campeonato, três vitórias, líder isolado da PL, primeiro arranque de sempre do Tottenham com três vitórias sem sofrer golos, juntando também ao apuramento para a fase de grupos da Conference League (apesar o sobressalto da primeira mão, em Paços de Ferreira).

Isto são os números. Mas e as exibições, têm sido tão boas como os resultados? Na minha opinião, nim!

Os Spurs tiveram o mais difícil dos arranques, frente ao campeão em título Manchester City, mas a resposta foi extremamente positiva. Num onze onde não entrava nenhum reforço, a equipa aproveitou o facto de não ter Kane, para deixar 3 setas apontadas à baliza de Ederson. A tática era simples – defender bem, coesão total atrás e sair rapidamente para o contragolpe. O objetivo principal passava por suster as investidas do adversário numa fase inicial, criar dúvida no resultado e aproveitar a inspiração do trio da frente para desferir o golpe fatal. E foi isso mesmo que aconteceu ao 55’ com Lucas e Bergwijn a combinarem rápido e bem, permitindo a Son desmontar Aké no um contra um, fazendo mais um golaço! Após o golo, enganou-se quem pensou que iríamos ter um vendaval de ataque do City. Apesar da (habitual) maior posse de bola da turma de Manchester, foi o Tottenham que esteve perto de aumentar, mas Bergwijn (como já fez em várias ocasiões no ano anterior) falhou na cara do golo. Vitória justíssima da melhor equipa em campo!

 

Delle Alli de volta aos golos muito tempo depois

Seguiu-se uma visita à antiga casa de NES, que como se esperava, foi muito bem recebido pelos adeptos no Molineux. Nesta partida, Kane já esteve presente na convocatória, entrando no decorrer do jogo e estando mesmo perto de marcar, mas o 11 inicial dos lilywhites manteve-se o mesmo da jornada anterior. Os Wolves arrancaram com “a corda toda” mas na primeira aproximação à área adversária, Dele Alli foi carregado por José Sá e o mesmo Alli cobrou o penalty que estabeleceu o resultado final. Depois foi preciso sofrer e sofrer bastante. Lloris esteve seguríssimo e apesar dos vários lances de perigo da turma da casa, que podiam muito bem ter resultado no golo do empate e de alguns contra-ataques venenosos dos forasteiros, o 0-1 foi mesmo o resultado final.

Uma nota para o Wolverhampton de Bruno Lage. Vi dois jogos e meio dos lobos e foram superiores aos seus adversários em todos eles (Leicester, Spurs e Manchester United) tirando naquilo que mais conta, que é introduzir a bola na baliza do adversário. Traoré continua um diabo à solta, Trincão mostra pormenores de classe, Neves a visão de jogo de sempre e Jimenez a disponibilidade habitual em termos de construção. Mas sem golos, não há futebol bonito que valha ao ex-técnico do Benfica, que precisa urgentemente de melhorar os índices de confiança dos seus atletas na hora da verdade. O calendário agora parece melhorar e com certeza que a equipa mais portuguesa da PL vai conquistar os pontos que têm fugido.

 

Harry Kane, o filho pródigo que ficou em casa

Voltamos ao Tottenham Hotspur Stadium, que desta vez recebeu a visita do recém-promovido Watford, a contar no 11 com Moussa Sissoko. Para gáudio de mais de 57 mil espetadores, Kane voltou escolhas iniciais, em detrimento de Lucas e tivemos um início de partida elétrico com a bola a rondar as duas balizas. O Watford mantinha as suas linhas mais baixas e bastante juntas, limitando as transições rápidas dos Spurs e encurtando muito os espaços. Estava a tornar-se um jogo cada vez mais complicado para a turma da casa e foi mesmo num período mais calmo do jogo, perto do descanso, que o Tottenham chegou ao golo, através de um livre direto lateral, após um centro/remate de Son que só parou no fundo da baliza de Bachmann, que pareceu mal batido no lance. Apesar desta falha, o keeper austríaco foi um dos melhores da partida e na 2ª parte tirou bolas de golo certo e que permitiriam uma vitória mais folgada dos anfitriões. Também o Watford esteve perto do empate, mas a defensiva dos Spurs estava em dia sim e a liderança isolada no campeonato tornou-se mesmo realidade.

 

o XI inicial dos Spurs contra o Watford

Destaques:

Lloris: seguríssimo e impenetrável, mesmo nos lances mais delicados. Foi gigante contra os Wolves e tem três cleen sheets no mesmo número de jogos.

Tanganga: esteve imperial a defender vs Man City, mas em jogos onde é preciso acrescentar no corredor, deixa a desejar. Teve muita liberdade contra o Watford mas procura sempre jogar simples, o que para um lateral de equipa (que quer ser) grande, não é o ideal. É novo e só pode melhorar, no entanto, parece-me para já, o elo mais fraco da equipa. Emerson Royal já chegou e terá certamente uma palavra a dizer na luta pela lateral direita.

Dier e Sanchez: nos últimos anos foram um autêntico buraco e dos principais responsáveis pelos resultados (ou falta deles) da equipa. Este ano, com Cuti Romero à espreita, estão a fazer pela vida e têm estado muitíssimo bem.

Skipp: que bela surpresa! O empréstimo ao Norwich fê-lo crescer e para já tem feito um bom trabalho no meio campo defensivo, juntamente com Hojbjerg. Não tem deslumbrado, mas tem cumprido.

Lucas e Bergwijn: Lucas esteve mais exuberante vs Man City (mvp?) e Bergwijn tem sido mais regular. São rápidos, têm técnica, precisam de melhorar na decisão, sobretudo no momento de rematar à baliza.

Kane: ainda não apareceu o Kane que todos conhecemos, mas esteve perto. Sá e Bachmann roubaram-lhe golos que não costuma falhar, mas se com um Kane a meio gás os Spurs lideram, com ele de volta e entrosado…

O coreano Son festeja o seu golo

Son: pode parecer polémico, mas sem problemas vou contra a corrente e afirmo que este é para mim a estrela da companhia! Que jogador, que atleta! Corre até não poder mais, não dá uma bola como perdida e finaliza brilhantemente com os 2 pés. Bendita a hora em que renovou pelos Spurs e se comprometeu a longo prazo com o clube sem olhar para trás e numa altura em que Kane parecia na porta de saída.

Reforços: ainda nenhum deles conseguiu entrar no 11 para os jogos da liga. Na verdade, ainda nenhum deles foi verdadeiramente relevante, deixando no ar a ideia de que no ano passado se podia (e devia!) ter feito muito mais com os atletas disponíveis. Cuti Romero estará a uma ou duas gaffes de Dier ou Sanchez de entrar na equipa titular e não mais sair, Emerson poderá agarrar na lateral direita, sobretudo em jogos mais fechados e onde seja necessário dar profundidade ao corredor direito, sendo que Gil e Gollini parecem talhados para as competições secundárias e no caso do espanhol, com breves aparições como suplente utilizado.

Com a paragem para os jogos das seleções, a PL regressa a 11 de setembro e os Spurs deslocam-se ao terreno dos vizinhos do Crystal Palace antes de receberem em casa o campeão europeu e fortíssimo (sobretudo no capítulo defensivo) Chelsea. Dois jogos com graus de dificuldade bastante distintos, mas que podem de certa forma alimentar o sonho do quase inatingível título ou pelo menos cimentar um possível lugar no top 4.

Comentários
Loading...