There’s A New (Lion) King

A temporada de 2021 acabou da única forma que podia acabar: emoções ao alto, polémica e luta roda-a-roda. Tenho que começar obrigatoriamente pelo fim, até porque, tirando a primeira volta, a corrida foi bastante sonolenta. Lewis Hamilton liderava confortavelmente, com cerca de 10 segundos de vantagem sobre Max Verstappen quando, a cinco voltas do final da corrida, Nicholas Latifi perdeu o controlo do seu Williams e bateu forte na curva 14, levando a uma situação de Safety Car. Ora, durante esse momento a Red Bull aproveitou para fazer parar Verstappen e “calçar” pneus macios para um eventual recomeço. Com cinco pilotos retardatários entre Hamilton e Verstappen e com o tempo para fazer com que esses pilotos se desdobrassem (o que é habitual, mas não obrigatório) a acabar, surgiram duas indicações contraditórias da direcção de corrida que levaram à polémica: primeiro foi mostrado um grafismo a informar que os carros atrasados não iriam ser autorizados a desdobrarem-se, para duas voltas depois ser dada a indicação contrária. A Mercedes protestou o resultado da corrida, com base em dois artigos do Código Desportivo: um sobre o posicionamento dos carros com voltas em atraso e um outro que diz que nenhum carro pode ultrapassar outro antes da linha de Safety Car, após o SC sair de pista. Ambos foram recusados pelos Stewards.

 

Sergio Perez foi importantissimo na vitória de Max Verstappen, deixando-se ficar para trás da corrida e fazendo Lewis Hamilton perder muito tempo para o ultrapassar

 

Após a bandeira verde não haveria muita história, tal a vantagem de ter pneus macios novos de Verstappen contra os pneus duros usados que Hamilton tinha na altura. Logo na curva 5 o holandês lançou o que seria o ataque final e decisivo. Falando do resto da corrida temos que dizer que foi de um domínio absoluto de Lewis Hamilton, que arrancou muito melhor que Max Verstappen, que só chegou perto do britânico na curva 7 da primeira volta, para só voltar a ver os escapes do Mercedes após a primeira paragem nas boxes, com a ajuda de Sergio Pérez, que conseguiu atrasar Hamilton o suficiente para deixar os dois candidatos ao título separados por apenas um segundo. Ainda assim Hamilton não sentiu a pressão e foi-se embora com facilidade e tinha a corrida controlada até ao acidente de Latifi, apesar das constantes preocupações quanto à “vida” que ainda existia naqueles pneus. Dizer ainda que a Mercedes não podia fazer parar Hamilton, porque apesar de estar na frente da corrida e em situação de Safety Car não dispunha de margem para fazer a troca de pneus e regressar à pista ainda na liderança uma vez que, neste cenário, a Red Bull não pararia Max Verstappen.

 

O holandês foi verdadeiramente voador naquela última volta

 

Portanto, título entregue a Max Verstappen, o primeiro da carreira do Leão Holandês, aos 24 anos. O título está bem entregue, como estaria bem entregue a Hamilton, mas com muita pena as acções da FIA vão ser tão ou mais discutidas do que os méritos dos pilotos. Verdade seja dita, em Abu Dhabi, Lewis Hamilton foi claramente superior e merecia levar o oitavo para casa. Na minha opinião, a única maneira da FIA salvar a face e não ser acusada de favorecimento era um final como aconteceu este ano em Baku: bandeira vermelha e partida em grelha para as últimas duas, três voltas. Não foi essa a decisão, esteve mal a direcção de corrida.

 

Carlos Sainz Jr. (5º) tem muitos motivos para sorrir neste seu primeiro ano de cavalo negro ao peito

 

Os Outros

Sendo a última corrida da temporada, é tempo de balanços. A Mercedes, apesar de não conseguir levar Lewis Hamilton ao oitavo título de pilotos, conquistou o ceptro de construtores pelo oitavo ano consecutivo. Os quatro primeiros lugares do Mundial de pilotos foram, sem surpresa, ocupados pelos pilotos da Mercedes e da Red Bull, com Valtteri Bottas, no ano de despedida da Mercedes, a conquistar o terceiro lugar, à frente de Sergio Pérez. O quinto lugar de Carlos Sainz acaba por ser um excelente resultado para o piloto espanhol que, no primeiro ano na Scuderia, conseguiu bater Charles Leclerc. A Ferrari, após um ano de pesadelo, conseguiu o terceiro lugar entre os construtores e deixou indicações de que está no bom caminho. Já a McLaren perdeu esta luta devido a uma ponta final de campeonato para esquecer, em que somou apenas 21 pontos nas últimas cinco provas, enquanto a Ferrari somou 73. Numa luta decidida por 48.5 pontos… Outro piloto que fez uma temporada muito boa foi Pierre Gasly. Um tranquilo nono lugar no campeonato de pilotos e a conseguir levar practicamente sozinho a Alpha Tauri ao sexto lugar entre os constructores, atrás da Alpine. Pela negativa destaque para a Aston Martin, que após uma brilhante época de 2020, ainda sob o nome Racing Point, este ano foi apenas sétima colocada, com o seu melhor piloto, Sebastian Vettel, a ser apenas 12º entre os pilotos. Acabo com a despedida de Kimi Räikkönen. O finlandês campeão de 2007 vai deixar saudades no paddock.

 

Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa em 2022: Max Verstappen e Lewis Hamilton vão andar a disputar o título até ao fim

 

2022

Acabado 2021, as atenções viram-se para 2022. Com novos monolugares e regulamentos veremos se alguém consegue descobrir e explorar algum buraco regulamentar que lhe dê vantagem (Brawn GP 2009, lembram-se?). E que bom seria vermos esta luta entre três ou quatro equipas e vários pilotos. A Mercedes e a Red Bull serão sempre favoritas, mas a subida de rendimento da Ferrari, na parte final do campeonato, deixa boas indicações quanto ao que poderemos ver na próxima temporada. Partindo de uma folha em branco todas as equipas querem mostrar resultados, mas deixem-me aqui destacar duas equipas: a Aston Martin, que esteve muito abaixo do esperado esta época e vai querer mostrar o que vale e a Haas, que apostou as fichas todas em 2022 e não trabalhou o carro deste ano.

Também o calendário trará novidades, com um novo grande prémio em Miami e os regressos à Austrália, ao Canadá e a Singapura a levarem o calendário até a um máximo de 23 corridas. Portugal, Turquia e Qatar não irão marcar presença em 2022.

2021 foi uma época memorável, com surpresas e reviravoltas para todos os gostos. Chegou ao fim da única maneira que podia, com suspense, polémica e com a coroação de um novo Campeão. Em 2022 Lewis Hamilton vai certamente querer a desforra e nós estaremos cá para ver!

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