F1 – O início da temporada 2022

Inicia-se hoje o 72º Campeonato do Mundo de Fórmula 1 com várias novidades, entre elas um novo monolugar e a estreia do GP de Miami.

A popularidade da F1 nos EUA, tem vindo a crescer de forma exponencial à boleia do sucesso da série “Drive to Survive” da Netflix que acaba de estrear a 4ª temporada.

 

Quando em 2012 foi inaugurado o Circuito das Américas (COTA) na cidade de Austin, estado do Texas, para ser a casa da Fórmula 1 nos Estados Unidos da América, muitos analistas apressaram-se a declarar-lhe o óbito.

Argumentavam que nunca conseguiria rivalizar em popularidade com a Nascar e Indycar, produtos feitos para o público norte-americano. Estavam enganados. As audiências têm crescido de ano para ano, e em 2021 bateu o recorde com 440.000 mil pessoas nas bancadas, ao longo dos três dias de prova, a maior presença de público da temporada.

É neste contexto que, pela primeira vez em décadas, no calendário estão duas provas em solo norte-americano, havendo rumores sobre a possibilidade de no futuro próximo existir um terceiro GP, a realizar-se nas ruas de Las Vegas.

Longe vão os tempos em que os pilotos da F1 escolhiam passar férias em Nova Iorque ou na Califórnia, por serem quase anónimos neste país. Hoje, Lewis Hamilton é tão popular nos EUA como algumas das maiores figuras do desporto mundial.

Grande Prémio das Américas

 

A Fórmula 1 é uma competição global com um calendário que se estende ao longo de oito meses, visita os cinco continentes, alcançando audiências e receitas estratosféricas que só encontram paralelo nos Jogos Olímpicos, no Campeonato do Mundo de Futebol (eventos que se realizam a cada quatro anos), e na final da Liga dos Campeões.

Em Fevereiro a F1 divulgou os números referentes à temporada de 2021. Ficou a saber-se que 1.55 biliões de pessoas assistiram pela televisão às 22 corridas da temporada, algo como 70 milhões de pessoas por GP. E 2.69 milhões compraram bilhete para assistirem ao vivo, um valor abaixo dos 4.16 milhões de 2019, que se explica devido às limitações decretadas na lotação de várias pistas devido à pandemia COVID-19. De recordar que em 2020, praticamente todas as corridas foram realizadas sem publico presente nas bancadas.

As receitas globais atingiram os 2.14 biliões de dólares, sendo de longe a maior competição motorizada do planeta e um dos maiores eventos desportivos à escala global. Por isso mesmo, não escapa aos acontecimentos que marcam os nossos dias.

O números mostram o crescimento da popularidade da competição

 

Com o eclodir da guerra na Ucrânia, o tetracampeão do mundo Sebastien Vettel recusou-se participar no GP da Rússia, que, desde 2014, se realizava na cidade de Sochi, situada na costa do Mar Negro, numa pista inserida no complexo desportivo construído para ser a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno desse ano.

No seguimento desse protesto a que se juntaram mais pilotos, as equipas, por unanimidade, decidiram não ir à Rússia, e pouco dias depois a F1 fez saber que tinha cancelado o contrato com o promotor que organizava esta prova e como consequência dessa decisão, ficava também anulado o acordo que previa a permanência da Rússia no calendário para além de 2023, com mudança para a cidade de São Petersburgo.

Por fim, a HAAS, propriedade do norte-americano Gene Haas, anulou o acordo com a marca russa Uralkali, principal patrocinador da equipa e despediu o piloto russo Nikita Mazepin que fazia dupla com o Mick Schumacher, filho do lendário Michael Schumacher.

O russo Nikita Mazepin foi despedido pela Haas no seguimento das sanções à Rússia pela guerra na Ucrânia

 

Mas a principal novidade da temporada que agora começa, é a alteração dos regulamentos técnicos, que teve impacto considerável no aspecto dos monolugares, visualmente mais bonitos e agressivos. Estes novos regulamentos previstos para arrancarem em 2021, foram atrasados um ano devido à pandemia.

O novo monolugar da Redbull

 

A grande novidade é o regresso do “efeito-solo” que fez escola nos finais dos anos 70 e início dos anos 80 do século passado, depois do inglês Colin Chapman ter introduzido esta inovação no Lotus F1 de 1979.  Porém, a partir de 1983 foi proibido. Desde então, engenheiros e projetistas tem aperfeiçoado a aerodinâmica dos monolugares, aplicando o princípio do “avião invertido”.

Nos aviões, as asas são desenhadas para permitir que descole e voe. Isso é possível devido à aceleração do ar que se desloca por cima das asas, causando uma área de baixa pressão, ao passo que o ar que se passa por baixo das asas sofre uma desaceleração, criando uma zona de alta pressão. A conjugação destes dois fenómenos, somado à velocidade do avião permite-lhe levantar voo.

Ora, num Fórmula 1 é aplicado este princípio, mas as asas traseiras e dianteiras são invertidas para empurrar o carro contra o asfalto. Desde os anos 80 até aos dias de hoje, a evolução tem sido tremenda, não só nos conhecimentos adquiridos, mas também na tecnologia que as equipas têm à sua disposição, como por exemplo, os túneis de vento e os sistemas CFD (Computational Fluid Dynamics).

Na temporada passada, estiveram em pista os Fórmula 1 mais rápidos da história. A maioria dos recordes de pista estavam em vigor desde 2004, grande parte deles conseguidos por Michael Schumacher a bordo do Ferrari F2004. Nesse tempo, os carros eram equipados com motores V10 aspirados, 3.0cc, atingiam as 19.000 rpm, tinham cerca 930cv e pesavam (sem piloto e gasolina), 605Kg.

Em 2021 a unidade de potência era composta por um motor a combustão Bi-Turbo, V6, 1.5cc, limitados às 15.000 rpm e um motor eléctrico, produzindo em conjunto cerca de 1.000cv, e pesavam 752Kg (piloto incluído), a que se somavam os 110kg em gasolina que todos os carros têm à partida de um grande prémio.

Para comprovar a superioridade do Fórmula 1, podemos usar o COTA como referência por receber várias disciplinas do desporto motorizado. Os recordes desta pista são os seguintes (tempos obtidos em corrida):

  • F1 – 1:36,169s – Charles Leclerc, Ferrari SF90 – 2019
  • LMP1 – 1:47,520s – Loic Duval, Audi R18 Le Mans – 2016
  • IndyCar – 1:48,895s – Collin Herta, Dallara DW13 – 2019
  • MotoGP – 2:03,781s – Marc Marquez, Honda RC213V – 2014
  • NASCAR – 2:16,048s – Kyle Busch, Toyota Supra – 2021

O recorde da pista pertence ao finlandês Valtteri Bottas, ao volante do Mercedes AMG F1 W10, em 2019, com 1:32,029s, tempo obtido na sessão de qualificação.

Todavia, a eficiência aerodinâmica dos F1 vem com um preço, a dificuldade para existirem duelos em pista, devido a um fenómeno chamado “wake”. O ar que atravessa o carro quando este se desloca a grande velocidade, ao ser expelido pelo difusor e asa-traseira, provoca uma perturbação no ar, chamado ar-sujo, que retira até 35% de eficiência aerodinâmica à asa da frente do carro perseguidor, os pilotos explicam que a sensação é semelhante à de conduzir no gelo, obrigando-os a levantar o pé do acelerador. Foi para ajudar a combater este problema, e se conseguirem mais ultrapassagens que em 2011 foi introduzido o DRS (Drag Reduction System). Em corrida, este dispositivo colocado na asa traseira, é accionado pelo piloto quando passa por um dos dois pontos de detecção colocados na pista, a menos de 1s do carro da frente. Ao ser accionado, o “flap” da asa traseira é colocado na posição horizontal, possibilitando que o ar passe sem resistência, conseguindo-se mais 15km/h de velocidade máxima. Assim que o piloto toca no travão, o DRS é desligado automaticamente e a asa traseira regressa à posição normal.

Contudo a questão dos duelos nunca ficou totalmente resolvida, e para tentar solucionar esta questão, a FIA em conjunto com a F1 e as equipas, acordaram o regulamento técnico que agora faz a sua estreia. Para além da aerodinâmica, os novos carros passam a ter pneus com jantes de 18 polegadas, em vez das 13 polegadas usadas desde os anos 80. A gasolina também é diferente, passando do standard E05, para E10 que contém 10% de etanol e diminui a emissão de CO2. O peso máximo do carro, incluindo o piloto, aumenta para os 795kg. Prevê-se que nos dois primeiros anos deste novo regulamento, os carros sejam em média 3s mais lentos que os da geração anterior, mas é seguro que gradualmente chegarão aos tempos de 2021.

A última vez que existiu uma grande alteração regulamentar com impacto na ordem das equipas foi em 2014, quando passou a ser obrigatório os motores híbridos. A Red Bull que ganhara os últimos quatro campeonatos de construtores e pilotos com Sebastien Vettel, perderam o domínio para a Mercedes, que desde então ganhou oito campeonatos consecutivos de construtores, e sete de pilotos (em 6 Lewis Hamilton sagrou-se campeão e num foi Nico Rosberg), perdendo o título de pilotos na temporada transacta para Max Verstappen (Red Bull-Honda), num final de campeonato envolto em muita polémica.

É neste contexto que arranca, no Circuito Internacional do Bahrain, localizado na cidade de Sakhir, mais uma temporada de Fórmula 1. Quando no dia 20 de Novembro terminar o GP de Abu Dhabi, quem será o Campeão do Mundo de 2022?

– Conseguirá o prodígio neerlandês Max Verstappen, o bi-campeonato?

– Ou será que Sir Lewis Carl Davidson Hamilton, MBE (Most Excellent Order of the British Empire), alcançará o oitavo título mundial, ultrapassando os sete de Michael Schumacher para ser consagrado como o melhor piloto de todos os tempos?

– Ou então, será que assistiremos a uma surpresa que ninguém vaticina, e o título vai ficar nas mãos de algum dos pilotos da Ferrari ou McLaren?

Façam a vossas apostas!

 

Grelha de Partida para a Temporada de 2022

 

ORACLE RED BULL RACING

#1 – Max Verstappen (NED)

#11 – Sergio Perez (MEX)

 

MERCEDES-AMG PETRONAS FORMULA ONE TEAM

#44 – Lewis Hamilton (ING)

#63 – George Russel (ING)

 

SCUDERIA FERRARI

#16 Charles Leclerc (MON)

#55 Carlos Sainz Jr (ESP)

 

McLAREN F1 TEAM

#3 Daniel Ricciardo (AUS)

#4 Lando Norris (ING)

 

ASTON MARTIN ARAMCO COGNIZANT FORMULA ONE TEAM

#5 Sebastien Vettel (ALE)

#18 Lance Stroll (CAN)

#27 Nick Hulkenberg (ALE)(*)

 

BWT ALPINE F1 TEAM

#14 Fernando Alonso (ESP)

#31 Esteban Ocon (FRA)

 

SCUDERIA ALPHATAURI

#10 Pierre Gasly (FRA)

#22 Yuki Tsunoda (JAP)

 

WILLIAMS RACING

#6 Nicholas Latifi (CAN)

#23 Alexander Albon (TAI)

 

ALFA ROMEO F1 TEAM ORLEN

#77 Valtteri Bottas (FIN)

#24 Zhou Guanyu (CHI)

 

HAAS F1 TEAM

#47 Mick Schumacher (ALE)

#20 Kevin Magnussen (DIN)

 

(*) Substitui Sebastien Vettel no Bahrain, devido a teste positivo à Covid19.
Comentários
Loading...